Categoria: Personalidades

A partida de um guardião de memórias

Marcelo O. do Nascimento

No último dia 21 fez um mês que perdemos o homem que, em sua simplicidade, e justamente com a sabedoria que só as pessoas simples têm, nos ajudou a localizar com precisão as ruínas da fazenda Poço dos Patos, reduto do capitão-mor Francisco Xavier Paes de Melo Barreto e onde nasceu o seu filho, o conselheiro Paes Barreto. Eloi José do Nascimento nasceu em 1926 na área da antiga fazenda, hoje dividida entre diversos sítios menores. Os vestígios da casa grande eram procurados por nós há quase 20 anos. Sem sua ajuda, certamente estaríamos nesta busca até hoje.

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Busto de José Araújo volta ao lugar de origem

Marcelo do Nascimento
Nesta semana de Natal, o busto de José Araújo voltou para o seu lugar de origem.
José Araújo foi o fundador da loja de mesmo nome em Pesqueira no ano de 1890. Com a reforma empreendida pela prefeitura na rua Duque de Caxias, onde o monumento ficava, o mesmo foi removido para a pracinha atrás do mercado publico, que leva o seu nome. Tal mudança gerou muita polêmica entre parte da população, gerando inclusive manifestação pública da família Araújo em Recife.
Com a devolução do busto ao seu lugar, cremos que venceu a tradição e a história. O monumento, fixado em frente à casa onde viveu o emblemático Zé Araújo, já havia criado um elo com a paisagem e com o dia-a-dia pesqueirense. Parabéns à prefeitura e aos envolvidos com essa acertada obra.
<hr ‘style: color blue’ />Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Que é feito de Seu Queiroz?

Por Jodeval Duarte
(jornal Pesqueira Notícias / reprodução)
Ele passou por Pesqueira plantando o futuro. Deu voz mais extensa à população, fez uma pequena revolução criando a Companhia Telefônica de Pesqueira. E quando faltava luz – principalmente no Cinema Moderno na hora da série de Flash Gordon – era a ele que recorriam. Tempos de emoções partilhadas, tempos de vizinhanças como uma grande clube familiar. E Seu Queiroz teve muito a ver com isso. Quando? Eis a questão. Busquei, cascavilhei, perguntei, cá fora e em Pesqueira, e nada. Um silêncio e uma raridade, tanto quanto esse termo “cascavilhei”, que não se encontra no Dicionário da Academia Brasileira de Letras com a nova ortografia, sequer no Dicionário Houaiss (conciso, é verdade), mas lá está no magnífico Caldas Aulete, que nunca me deixou na mão. Cascavilhar (termo de uso no Nordeste, nosso Nordeste), que quer dizer remexer, esgaravatar à procura de alguma coisa (ou de alguém, acrescento).
O que cascavilho, então: Que é feito da memória de Seu Queiroz? Quem ainda guarda alguma lembrança, além do que foi deixado por Jarival Cordeiro no extenso artigo que fez para falar dele, de Tito Wanderley e Jurandir Brito de Freitas? Ali estão traços de alguns episódios da história pesqueirense de Seu Queiroz e não é pouco o que ele construiu, pelo que se torna difícil entender o monumental silêncio que cerca a história desse homem que, diz Jarival, “deu a Pesqueira status e ao povo um meio de comunicação muito bom”, além de ter sido chefe da Casa de Força, quando não tinha a energia de Paulo Afonso. Pois bem, procurei informação no arquivo público municipal e nada. Apenas  uma luz começa a brilhar e busco ansioso encontrar  caminho: Francisco Neves, o jornalista do Pesqueira Notícias e dono do melhor museu que já vi no interior de Pernambuco.
O que fazer para tirar do esquecimento o “homem austero, simples, honrado e inteligente” que “aqui aportou não sei como nem quando, cuidando da Usina Elétrica e instalando telefone de manivela, feito, acredito, quase pioneiro no Estado” – nas palavras de Jarival. Esse depoimento é uma espécie de atenuante para se entender por que Seu Queiroz é desconhecido das gerações mais novas. Se o articulista não sabia quando nem como o criador da Companhia Telefônica de Pesqueira lá chegou, o que dizer dos que vieram  na segunda metade do século XX? Por isso sirvo-me do Pesqueira Notícias e da generosidade de Francisco Neves para pedir a ajuda dos mais velhos que podem tirar da memória cenas da passagem de Seu Queiroz e dar à cidade mais esse patrimônio cultural, entre tantos criados pelos seus filhos notáveis no jornalismo, na literatura, na atividade pública.

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Os 150 anos de Zeferino Galvão

Marcelo O. do Nascimento

No dia 9 de maio de 1864 nascia, em área então pertencente ao município do Brejo, Zeferino Cândido Galvão Filho, intelectual que dispensa apresentações. Segundo ele mesmo, em autobiografia (mil vezes infelizmente desaparecida), chegou a Pesqueira aos seis anos de idade, no mês de maio de 1870. Aqui não ficou rico, ganhou tão somente o necessário para sobreviver, mas tornou-se o maior escritor que a cidade já viu. Foi professor, historiador, filósofo, poeta, jornalista, linguista… Deixou uma obra gigante, mas que muito pouco é conhecida. Muitos de seus trabalhos não chegaram a ser publicados e alguns foram perdidos.

Esse ano completaram-se 90 anos de sua morte, tendo falecido em 1º de fevereiro de 1924. completaram-se também, neste mês de maio, além dos 150 anos de seu nascimento, 144 anos de sua chegada a Pesqueira. Observador, como deveria ser, viu grande parte da evolução de Pesqueira, registros que talvez tenha feito na autobiografia, mas que também talvez nunca cheguemos a conhecer. Nela, em trecho conhecido, disse ele sobre esta terra: “encontrei-a pequena e obscura, monótona e mal construída […] cresci e ela cresceu comigo. De simples vila passou a cidade; tornando-se rica, enchendo-se de habitantes…”

Este mês de maio de 2014 passaria em branco se não fosse a pequena mas importante publicação “Sesquicentenário de Zeferino Cândido Galvão Filho”. É o reconhecimento da Prefeitura Municipal (responsável pela edição), através do Instituto Histórico e Geográfico de Pesqueira e da Fundação de Cultura que carrega o nome do intelectual homenageado. Em trecho da apresentação, resume-se o seu propósito:

“… mais que lembrar o Sesquicentenário de seu nascimento é fazer com que a sua vida e obra chegue aos estudantes e de um modo geral à comunidade pesqueirense, investindo em práticas pedagógicas que visem despertar o gosto pela leitura e a adoção de novos pontos de vista e novas posturas pelo universo literário”.



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Os Suíços de Papagaio

Foto: Eri Martins

As informações mais antigas sobre Papagaio, hoje distrito de Pesqueira, dizem respeito a Constant Duvoisin, natural de Granson, na Confederação Helvética. Migrando para o Brasil, o suíço instalou-se primeiro em São Bento, depois se mudou para Papagaio, onde se casou, formou família e viveu até sua morte em 26 de setembro de 1882.
Algumas notas genealógicas soltas na internet indicam que ele teria vindo para o Brasil em 1859, mas não encontramos documentos que validem tal informação. O certo é que, em certa época, o senhor Duvoisin comprou a fazenda Papagaio, propriedade que leva o mesmo nome do rio que corre naquela região. Não sei se na época da compra já se tratava de fazenda constituída ou apenas uma porção de terra que foi por ele transformada em fazenda.
Provavelmente, por volta de 1866, ele se casou com Maria Rita da Conceição Carlos. Em 1867 e 1869, nasceram na fazenda Papagaio respectivamente Henrique Carlos Duvoisin e Inês Carlos Duvoisin, ambos filhos do casal. As crianças foram registradas no Consulado Suíço, em Recife, recebendo a nacionalidade do pai. Os dois foram assim, suíços nascidos em Papagaio. Estas informações foram anotadas por José de Almeida Maciel (Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres. CEHM/FIAM, 1980), que descreveu inclusive alguns traços de dr. Constâncio, como ele era conhecido. Segundo o autor:
“Geralmente chamado Doutor Constâncio (não ficou provada a obtenção do diploma), falava vários idiomas e dispunha de conhecimentos aprofundados de Medicina. Redação correta e impecável caligrafia, tudo isto o reputava um afeiçoada das letras.”
Como se percebe, ele era homem diferenciado na época e lugar em que viveu. 
A fazenda Papagaio era bastante extensa e equipada, conforme as mesmas notas de José de Almeida Maciel:
“[…] abrangia um âmbito de 240 braças de largura com o comprimento desde a estrada que vem de Covas até encontrar terras de Riachão (São Bento). Continha casa de vivenda e três outras: de escola, de bolandeira e de prensa; cercados currais e açude. Foram anexadas outras partes adquiridas de Pantaleão Batista Bruno (fazenda Covas), João Gabriel (Papagaio de Cima), Justino e Marcos (Marimbas), Francisco de Goes, José Maurício, Inácio Camilo; uma parte em Salobro e duas outras, Cascavel e Boa Vista, no município limítrofe de São Bento.”
O patriarca Duvoisin deixou, segundo seu inventário, 130 cabeças de gado, 8 cavalares, 80 cabruns e 60 ovelhuns. No inventário constava ainda uma farmácia, mercadorias de estivas, molhados, miudezas e ferragens. Ocorre que o suíço era comerciante. Inclusive, um compatriota eras seu correspondente comercial em Pesqueira: o também suíço Ricardo Caduff.
Outro trecho do inventário apresenta: um relógio de ouro avaliado em 50 cruzeiros (muito caro na época), cadeiras, bancos, mesas, balanças, 3 revólveres, máquina de descaroçar, prensa para ensacar algodão, relógio de parede, prateleiras, balcão, prensa de copiar cartas, óculo de alcance, livros encadernados e em brochura, duas classes para escola, um globo para estudo de geografia e uma caixa de matemáticas.
Percebemos a existência de itens inusitados, inclusive o material escolar.
No inventário aparecem apenas três escravos, poucos para o tamanho da fazenda.
Os filhos de dr. Constâncio deixaram muitos descendentes em Papagaio e em Pesqueira. Na cidade, ainda hoje, encontramos muita gente com seu sobrenome, embora registrado com muitas variações por erro dos cartórios.
Marcelo do Nascimento.
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Coronel Candinho, o 2° Barão de Cimbres | por Marciana Nascimento

Cândido Xavier Pereira de Brito
O 2o. Barão de Cimbres
Uma personalidade da Pesqueira do século XIX que merece ser lembrada é o Coronel Cândido Xavier Pereira de Brito, o Barão de Cimbres, ou Coronel Candinho, como era conhecido entre os mais próximos.
O 2° Barão de Cimbres nasceu em 1822, tendo chegado a Pesqueira por volta de 1849, quando fixou residência na fazenda Caianinha, onde ficou até mudar-se para a Fazenda Gravatá, antes pertencente ao comendador Antônio de Siqueira Cavalcante, de quem o coronel comprou a fazenda na qual viveu até sua morte, na companhia de seus escravos e funcionários, entre eles, seu pajem que o acompanhava nas suas viagens e passeios, e Luíza, sua governanta, mais conhecida em Pesqueira pelo apelido de Caêta.
Coronel Candinho é um dos personagens mais fascinantes da história de Pesqueira. Diz-se que mesmo sendo detentor do título de Barão de Cimbres, tendo sido chefe do partido Liberal no município, juiz municipal e de órfãos e ocupando o posto de coronel comandante da Guarda Nacional, não se via nele traço algum de ostentação de orgulho diante de sua projeção local, sendo descrito por José de Almeida Maciel (no livro Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres) como um homem polido, de maneiras fidalgas, de espírito religioso e caritativo, de conversação culta, fluente, educada e agradável.
O 2° Barão de Cimbres era religioso e muito caridoso, sendo esta característica de sua personalidade notada principalmente no tratamento em relação aos escravos, pois relata-se que jamais maltratou ou deixou maltratar qualquer um destes. Também em relação a isso, é necessário lembrar que segundo Luís Wilson (em Ararobá, lendária e eterna), após a abolição, o Barão comprou a fazenda Cachoeira e dividiu a propriedade entre seus escravos pais de família de modo que cada um destes passou a ter seu próprio pedaço de terra.
Por ocasião de sua morte, em 10 de janeiro de 1894, ficou ainda mais evidente o espírito caritativo do Barão, quando em testamento deixou divididos os seus bens não só entre os parentes, porém também entre seus escravos e funcionários, além de ter doado ainda uma parcela de sua herança para a construção de um cemitério onde seriam enterrados os pobres.
Segundo diversas fontes, a maior parte de seus bens foram deixados a seu sobrinho José de Sá Pereira ou Juca, inclusive a fazenda Gravatá, a qual vendeu no mesmo ano de 1894. Lamentavelmente Juca teria se desfeito rapidamente de toda a herança deixada pelo tio.
Coronel Candinho foi um homem de grande importância local e politicamente ativo, porém, suas características que mais chamam a atenção dizem respeito a sua maneira de tratar o próximo, mostrando que o Barão acima de tudo era amante da terra onde viveu e de sua gente humilde. Uma prova incontestável do seu amor por esta terra, foi sua vontade manifestada em testamento, de ser enterrado na igreja de Jenipapo caso morresse em Gravatá. Como faleceu em Recife onde havia passado seus últimos dias tratando de sua doença, foi enterrado lá mesmo em sua cidade natal em um mausoléu no cemitério de Santo Amaro.
Para descrevê-lo, gostaria de usar as palavras do escritor Guilherme Auler, que na minha opinião o descreveu de forma brilhante:
“Religioso, temente a Deus e confiante na sua misericórdia divina; tradicionalista, amigo da sua terra, querendo ser sepultado onde vivêra; caridoso, amigo dos pobres e lembrando-se dos mesmos até que eles tenham uma última morada; senhor que premeia os seus alforriados escravos; bom amigo, bom parente, que a todos contemplou na sua generosidade derradeira”
Que homens como este nunca sejam esquecidos. 
20 de abril de 2013.
133 anos da elevação da vila de Pesqueira a cidade.

Por Marciana Nascimento
Fontes:
Livro Pesqueira e o Antigo termo de Cimbres, de José de Almeida Maciel
Livro Ararobá, lendária e eterna de, Luis Wilson
Livro Caboclos do Urubá, de Nelson Barbalho


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A Casa José Araújo, no singular

Poucas coisas lembram tanto o passado de Pesqueira quanto a Casa José Araújo, no singular mesmo; no singular porque foi a primeira e durante anos a única loja do que depois se tornaria uma grande rede.
Seu Bianor e seu Joaquim
José Araújo e Albuquerque, conhecido largamente como José Araújo, nasceu em 19 de março de 1870. Ele era filho do major Tomás Araújo e Albuquerque e dona Guilhermina Filoteia de Melo e casado com Maria Belas Magalhães, chamada de dona Santa.
Era uma época pré-industrial quando se sobressaia em Pesqueira o comércio, então seu motor de desenvolvimento. Muitas famílias vinham de outros lugares para cá e foi assim com a família de José Araújo, que migrou do Brejo da Madre de Deus para a promissora terra ao pé da serra do Ororubá, onde com espírito empreendedor ele abriu, em 1890, no dia de São José, sua lojinha de tecidos a qual deu o singelo nome de Casa José Araújo.
Como sabemos, a pequena loja era concorrente do Bazar Pesqueirense (esta de 1870, depois loja Tito Rego), e posteriormente da Loja Santa Águeda (de seu Cazuzinha Maciel), mas devia haver outras, pois era tempo de quando quase tudo o que se precisava tinha de ser feito a mão e individualmente.
A Casa José Araújo foi o empreendimento mais duradouro de Pesqueira, tendo funcionado ininterruptamente por 106 anos, de 1890 até 1996, quando fechou as suas portas. Foi mais que a Fábrica Peixe, que fechou logo após completar 100 anos. Foi mais de um século vestindo os pesqueirenses, enfeitando e equipando suas casas, já que depois produtos de outras linhas foram incorporados ao negócio: eletrodomésticos, decoração, etc.
Casa José Araújo em 1939
A marca José Araújo cresceu bastante, alcançou primeiro as pequenas cidades vizinhas de Pesqueira, depois parte do Nordeste e até alguns lugares no Sul do País. Àquela altura o nome já era literalmente plural: “Casas José Araújo”, e esteve presente, dentre outras cidades em: Maceió, João Pessoa, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Havia unidades em várias cidades do interior nordestino, em Recife havia em vários endereços. No total foram dezenas de filiais: um fenômeno.
Impossível não lembrar também das campanhas publicitárias produzidas pela Itaity Publicidades para a tevê, algumas tendo se tornado clássicos imortais como os comercias das bonecas de pano (“As coisas do meu Nordeste são bonitas de lascar…”), a do carnaval (“Eu quero a minha mãe, onde ela está?…”) e de N. Sra. da Conceição (“Senhora da Conceição, minha mãe, minha rainha…”). Houve também um comercial em homenagem aos 100 anos de Pesqueira, veiculado em 1980.
Atualmente o prédio de José Araújo ainda existe em Pesqueira, tanto a parte inicial, menor, quanto a parte ampliada, onde ainda, embora por baixo de painel de uma nova loja, existe o letreiro original no singular: “Casa José Araújo”.
É justo lembrar também da solidariedade da família Araújo, especialmente na pessoa de seu José Araújo Filho, que manteve durante décadas o lar dos idosos que levava o nome de sua mãe, além disso, o cuidado que ele tinha com o jornal Nova Era, dirigido pelo Pe. José Mariai. Embora já morando há muito tempo em Recife, seu Zé Araújo Filho nunca esqueceu de Pesqueira e de suas raízes.
Falar sobre a história local, sobre um lugar tão próximo de nós, faz com que nossas emoções se misturem a pesquisas e documentos históricos; em alguns casos se torna inevitável. Assim, é impossível falar de Zé Araújo e não lembrar de seu Joaquim e seu Bianor, creio que as duas figuras mais tradicionais em toda a história da empresa.
Seu “Joaquim da Loja”, como era chamado, dedicou impressionantes 66 anos de sua vida à empresa. No informe de Luiz Nevesii, em 1980 ele recebeu de José Araújo Filho uma homenagem pelos 50 anos de trabalho na loja, no entanto, como sabemos, ele permaneceu trabalhando lá 16 anos mais, até o fechamento. Seu Joaquim, falecido em 1º/02/2002, estaria hoje com 99 anos de idade.
Seu Bianor, não menos marcante que seu Joaquim, entrou em José Araújo em 1939, pouco depois do colega, formando a dupla mais duradoura e brilhante que o comércio de Pesqueira já viu. Creio ser esse um caso, senão único, bastante raro no País.
Busto de José Araújo, em Pesqueira
O atendimento, fui testemunha, era do jeito que o povo gosta, o cliente era sempre o foco do negócio, talvez por isso tenha alcançado tamanho sucesso. A loja era aconchegante, os vendedores simpaticíssimos, tenho a impressão que eram escolhidos a dedo. Todos bem alinhados, de camisa e gravata, sempre prontos a vender o melhor corte Zé Araújo. Sem dúvida os tecidos foram os produtos mais marcantes e o carro chefe da loja.
Passar em frente ao antigo prédio e não sentir saudade, só para quem não conheceu a loja Zé Araújo. Ainda hoje tenho na memória a figura dos vendedores junto aos cortes de tecido (especialmente Carlos, hoje taxista), do senhor que nunca soube o nome (pai de Laudivan, ex-colega do CERU), mas que mantinha a loja sempre impecável, e de seu Joaquim e seu Bianor na porta, mirando o tempo. Bons tempos.
Hoje a marca se mantém viva na Estrada do Arraial, em Recife, guardando o mesmo padrão de qualidade que lhe fez fama e proporcionando a alegria dos que tiveram o privilégio de conviver com a loja especialmente em Pesqueira, pois tenho certeza que para nenhuma outra cidade ela foi tão importante quanto. Contamos agora seus 123 anos. E que venha mais um século, pois seu Zé Araújo merece!
Pesqueira, 19/03/2013.
Dia de São José.

Marcelo Oliveira do Nascimento.
FONTES:
iSilva, José Maria da. José Araújo – Não se descarte a memória. In Pesqueira Notícias, de fevereiro de 1997.
iiNeves, Luiz de Oliveira. Caçuá de Lembranças. Ed. do autor/CEPE. Recife: 1981, pg. 43.

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Os 100 Anos da Chegada de Dr. Lídio Paraíba

Dr. Lídio Paraíba

Dr. Lídio Paraíba nasceu em Uruguaiana-RS em 5 de junho e 1890. Formado em medicina no Rio de Janeiro em 1911, chegou a Pesqueira no ano seguinte. Em resumo, em 2012 completa-se 100 anos de sua chegada à terra que não o viu nascer, mas que ele adotou como sua talvez como nenhum outro cidadão jamais chegaria a fazer.

A Pesqueira de 1912 era uma progressista povoação. Contava já com as fábricas Peixe e Rosa, duas indústrias bastante desenvolvidas, e um comércio famoso em toda a região. Àquela altura a cidade já contava também com a Casa José Araújo (fundada em 1890) e com o Bazar Pesqueirense (depois O Barateiro) do pai de seu Tito Rego, dentre outros estabelecimentos. Embora um centro importante , tanto comercial como industrial (já contava inclusive com uma linha de bondes!), a cidade era ainda um lugar de urbanismo precário, com ruas de terra e sem energia elétrica (que chegaria em 24/12/1913). A saúde pública praticamente não existia, tamanha a ausência de estrutura, não havia hospital ou outro centro de saúde com competência suficiente. Foi esse o cenário que Dr. Lídio encontrou ao descer de um dos vagões da Great Western, atendendo o convite feito pelo farmacêutico Xavier de Andrada.
Dr. Lídio atendeu seus primeiro pacientes na Farmácia Santos, de Manoel Cristóvão dos Santos, depois se instalou no então Largo da Matriz (hoje Praça Dom José Lopes) e por último na antiga rua 15 de Novembro (hoje rua Dr. Lídio Paraíba, em sua homenagem), onde por fim fixou seu consultório.
Para dr. Lídio gente era gente e ponto final: rico, pobre, preto, branco, jovem, velho, cristão ou ateu. Conta-se que ele nunca se negou a atender qualquer um que fosse, inclusive sem se importar com pagamento. Ele não parava de passar pelas ruas empoeiradas de Pesqueira no seu automóvel guiado pelo motorista Pedro Miro, sempre a caminho de atender algum pesqueirense enfermo, em qualquer bairro, da Pitanga ao Prado, a qualquer horário do dia ou da noite.
Ele foi o médico de Pesqueira durante meio século, dedicou quase toda sua vida a ela e a seus cidadãos. Foram incontáveis os pesqueirenses que passaram por suas competentes mãos. Foi em Pesqueira também que ele realizou um grande feito, um sonho imenso que se tornou realidade: a construção do hospital que hoje leva seu nome, do qual foi diretor por 20 anos.
Essa pequena nota, insignificante em tamanho, mas realmente sincera, dedico a um homem que dedicou uma vida inteira a um lugar, que o amou despretensiosamente como se fosse dele. Naquele 17 de fevereiro de 1963 Pesqueira teve com certeza um pedaço seu enterrado.
Homenagem maior lhe fez a historiadora Eulina Monteiro Maciel, de Jaboatão dos Guararapes, com o livro “Tributo ao Médico Dr. Lídio Parahyba – Uma voz na Assembleia Legislativa”, obra que brevemente terá lançamento em Pesqueira. Uma jaboatanense fez então o que nenhum pesqueirense foi capaz de fazer. No entanto, o que importa de fato é que Dr. Lídio não foi esquecido.
Pesqueira, 31/12/2012.
Em memória de Dr. Lídio Paraíba.
 
Marcelo Oliveira do Nascimento.
Fontes:
WILSON, Luís. Ararobá Lendária e Eterna. CEPE/Pref. De Pesqueira. Recife: 1980.
SANTOS, Luiz Cristóvão dos. Doutor Lídio – O médico do Sertão. Matéria escrita para o Diário de Pernambuco por Luiz Cristóvão dos Santos. Data não identificada.
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O Primeiro Bispo da Diocese de Pesqueira

A maioria das pessoas, talvez todas, tem Dom José Lopes como o primeiro bispo de Pesqueira. No entanto a história oficial é diferente.
Em 5 de dezembro de 1910, a Igreja de Roma criou a Diocese de Floresta, a primeira do Sertão pernambucano, desmembrada da então Diocese de Olinda, que na mesma data foi elevada a Arquidiocese. Em 12 de maio do ano seguinte, a nova e imensa diocese conheceria o seu primeiro bispo, Dom Augusto Álvaro da Silva, um recifense nascido em 8 de abril de 1876 e ordenado sacerdote em 1899. Sendo esta a mesma sede episcopal que depois, em 1918, seria transferida para Pesqueira, temos Dom Augusto oficialmente como seu primeiro bispo e Dom José Lopes, nomeado em 1915, como o segundo titular, embora este consagrado popularmente na cidade como o primeiro.

 

Dom Augusto Álvaro Cardeal da Silva
Luís Wilson nos conta (Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos. Recife: FIAM. 1978) que Dom Augusto era um homem culto e inteligente, poeta e jornalista. Ele chegou até a publicar alguns livros sob o pseudônimo de Carlos Neto. Sua nomeação para bispo da nova Diocese saiu em 20 de dezembro de 1910  e sua sagração ocorreu em 22 de outubro de 1911 na matriz de São José, em Recife, por  Dom Luiz de Brito (tendo como auxiliares Dom Joaquim de Almeida e Dom Francisco, bispos de Natal e do Maranhão, respectivamente).
Também Luis Wilson, citando Álvaro Ferraz (autor de Floresta, Memórias de duma Cidade Sertaneja no seu Cinqüentenário), nos conta também que no dia 16 de novembro de 1911 partiu uma comitiva de Floresta. O grupo era formado por Antônio Serafim de Sousa Ferraz (conhecido como Antônio Boiadeiro), Antônio Ferraz de Sousa e João Barbosa de Sá Gominho, sertanejos acostumados a cavalgar por aqueles caminhos inóspitos. A missão era conduzir o bispo de Mimoso (em Pesqueira), fim da linha da Great Western, até sua nova residência. Sem o apoio do grupo, que conhecia muito bem o caminho e suas pousadas, a viagem seria mais demorada e mais perigosa.
A comitiva deixa Mimoso em 23 de novembro e alcança o último pouso na tarde do dia 28, a fazenda Água-Pé, às margens do Riacho do Navio. Essa parte da história Luiz Wilson ouviu do sertanejo Fortunato de Sá Gominho, conforme consta em sua obra já citada.
O grupo finalmente alcançou seu destino na manhã do dia seguinte. Era então entre 8 e 9 horas da manhã do dia 29 de novembro de 1911. O bispo entrou na cidade acompanhado de mais de 300 cavaleiros e foi recebido pela população com uma grande festa, fogos e a banda municipal, que executava o Hino Pontifício. Na igreja matriz a recepção foi a cargo do vigário José Ribeiro e do vigário de Belém de São Francisco, o padre Phalemppim.
Dom Augusto alavancou o desenvolvimento educacional e cultural de Floresta fundando um colégio, um jornal (o Alto Sertão) e um seminário. No entanto, em 08 de setembro de 1915, ele deixou sua primeira Diocese para dirigir a Diocese de Barra, na Bahia. Em 1924 torna-se arcebispo daquele Estado e ganha destaque no País inteiro ao organizar o primeiro Congresso Eucarístico Nacional e ao se tornar presidente da Comissão dos Congressos Eucarísticos Brasileiros.
Em 11 de janeiro de 1953, Dom Augusto é nomeado cardeal pelo Vaticano, depois de somar uma grande obra  humana e religiosa. Falecido em 1968, foi sepultado com suas vestes de bispo, conforme sua vontade.
Há muito mais a se falar sobre o grande Dom Augusto Cardeal Silva, no entanto a nossa intenção é tratar o assunto de forma sucinta. Assim, depois dessa introdução, vamos à parte que corresponde à história de Pesqueira.
Com a saída de Dom Augusto da Diocese de Floresta, lá ficou como administrador apostólico o padre Frederico de Oliveira, que era vigário de Tacaratu. Ainda naquele ano de 1915, em 21 de novembro, toma posse o novo bispo: Dom José Antônio de Oliveira Lopes, natural de Recife e nascido em 11 de abril de 1868.
Em 1918, no entanto, a cidade de Floresta sofre um duro golpe. O Papa Bento XV, pela bula ARCHIDIOCESIS OLINDENSIS ET RECIFENSIS, de 02 de agosto de 1918, transfere a Diocese de Floresta para Pesqueira. Esse é um ponto no qual muita gente ainda tem dúvida. O fato é que a Diocese de Pesqueira não foi criada em 1918 e sim em 1910 e Dom José Lopes não é bispo desde 1919 e sim desde 1915. A bula papal mudou o endereço da antiga diocese e o seu nome e na verdade não criou uma nova. Naturalmente Dom José Lopes já era o bispo titular, então se mudou para Pesqueira no ano seguinte.
 
O ótimo site Catholic Hierarchy (disponível em http://www.catholic-hierarchy.org) consegue mostrar bem esse processo:
Data
Evento
De
Para
05/12/1910
Instituída
Diocese de Olinda
Diocese de Floresta (instituída)
02/08/1918
Nome mudado
Diocese de Floresta
Diocese de Pesqueira
30/11/1923
Perda de território
Diocese de Pesqueira
Diocese de Petrolina (instituída)
02/07/1956
Perda de território
Diocese de Pesqueira
Diocese de Afogados da Ingazeira (instituída)
15/02/1964
Perda de território
Diocese de Pesqueira
Diocese de Floresta (instituída)
A tradução desta tabela é nossa. E nela pode ser constatado que a antiga diocese de Floresta e a atual Diocese de Pesqueira são técnica e oficialmente a mesma. Vemos ainda a novas dioceses criadas a partir de Pesqueira, inclusive a nova Diocese de Floresta, que não é a mesma de 1910.
 
As informações seguintes, também do site Catholic Hierarchy e mais uma vez de tradução nossa, mostram o histórico dos bispos da diocese em questão:
BISPOS VIVOS:
Bernardino Marchió (Bispo Coadjutor: 27 Mar 1991; Bispo: 26 May 1993 6 Nov 2002) 
BISPOS FALECIDOS:
Adalberto Accioli Sobral † (Bispo: 13 Jan 1934 a 18 Jan 1947)
Severino Mariano de Aguiar † (Bispo: 3 Dec 1956 a 14 Mar 1980)
Adelmo Cavalcante Machado † (Bispo: 3 Apr 1948 a 24 Jun 1955)
Augusto Álvaro da Silva † (Bispo: 12 May 1911 a 25 Jun 1915)
José Antônio de Oliveira Lopes † (Bispo: 26 Jun 1915 a 24 Nov 1932)
Manuel Palmeira da Rocha † (Bispo: 14 Mar 1980 a 26 Mai 1993)
         Com as informações do Catholic Hierarchy apenas confirmamos o que já tínhamos falado.
 
        A mesma bula Criou também as dioceses de Nazaré e Garanhuns. Bento XV, com aquela publicação, fez a Igreja de Pernambuco dar um enorme passo.


         Por Oliveira do Nascimento.

        Acréscimos e correções feitos em 16.04.2018.
         Fontes:
          WILSON, Luís. Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos. Recife: FIAM. 1978


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O Pioneirismo de Dina Doceira

A fábrica Peixe em Pesqueira dispensa apresentações. A  empresa fundada em 1898 pelo casal Carlos e Maria Brito, durante 100 anos, foi a maior referência da cidade. Evidentemente este é um capítulo especial de nossa história que merece uma matéria a altura. No entanto, essa pequena – mas importante – nota é pela memória da mulher que foi uma das responsáveis pelo sucesso do empreendimento.
No já distante Século XIX, ainda na época do Império do Brasil, vivia em Pesqueira, num lugar afastado do centro, nas imediações do caminho para a fazenda Barra, uma senhora chamada de dona Negu. Ela tinha um pequeno fabrico caseiro de doces de goiaba que fazia enorme sucesso na localidade. Dona Negu era mãe de Dina da Conceição, Maria Frecheiras e Maria Emília. E foram as três que herdaram da mãe a pequena fábrica e também o conhecimento para produção dos doces.
Na verdade o produto era de fabricação artesanal, feitos em tachos comuns e mexidos a mão. Inicialmente tinham forma de barra, de cor escura, açucarado, de corte um tanto difícil, mas de gosto bastante apreciado pela população. Eram vendidos em fôrmas de madeira. Isso é o que nos conta Luís Wilson em Ararobá, Lendária e Eterna (Pesqueira, 1977). No entanto, diz-se que dona Dina conseguiu transformar o doce no que conhecemos hoje, em cor e consistência. O que era opaco tornou-se rosado e translúcido. Se já era saboroso, tornou-se também macio e de boa aparência.

Dina Doceira
Acervo do Museu Luís Neves
Nessa época as três irmãs começaram a vender os doces em latas feitas pelos funileiros da cidade, já que a nova consistência não permitia o corte em barra. Ainda segundo Luís Wilson, a demanda aumentava de uma forma que elas não conseguiam dar conta dos pedidos.
Depois, dona Maria Frecheiras deixou Pesqueira e foi morar em Palmares, lá se dedicando também à fabricação de doces.   Ainda no Século XIX dona Dina passou a trabalhar na casa de dona Maria Brito e para lá levou sua arte. Isso ocorreu por volta de 1897, no mesmo ano que o casal Brito mudou-se do centro da cidade para o chalé construído na antiga “Estrada de Sanharó”. No ano seguinte estava fundada a Fábrica M.B. (Maria Brito), que mais tarde seria conhecida nacional e internacionalmente como Fábrica Peixe.
A importância de dona Dina Doceira para a cultura do doce em Pesqueira é evidente. A pequena fábrica que mantinha em família com a mãe e as irmãs representa o começo dessa tradição, já que não conhecemos registro mais antigo sobre a produção de doces na cidade. O fator principal para o sucesso alcançado foi sua fórmula para transformar  o produto no que conhecemos hoje como padrão.
Dona Maria Brito foi uma mulher de vanguarda, corajosa e empreendedora, mas muito deve ela a dona Dina, que foi o elo de ligação entre a pura arte manual e a modernidade da indústria. Em tudo dona Maria Brito foi inteligente, até em saber a quem ter por companhia.
Marcelo O. do Nascimento
Fontes:
WILSON, Luís. Ararobá, Lendária e Eterna. Pesqueira: Prefeitura Municipal, 1980.

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