Categoria: Marciana Nascimento

Coronel Candinho, o 2° Barão de Cimbres | por Marciana Nascimento

Cândido Xavier Pereira de Brito
O 2o. Barão de Cimbres
Uma personalidade da Pesqueira do século XIX que merece ser lembrada é o Coronel Cândido Xavier Pereira de Brito, o Barão de Cimbres, ou Coronel Candinho, como era conhecido entre os mais próximos.
O 2° Barão de Cimbres nasceu em 1822, tendo chegado a Pesqueira por volta de 1849, quando fixou residência na fazenda Caianinha, onde ficou até mudar-se para a Fazenda Gravatá, antes pertencente ao comendador Antônio de Siqueira Cavalcante, de quem o coronel comprou a fazenda na qual viveu até sua morte, na companhia de seus escravos e funcionários, entre eles, seu pajem que o acompanhava nas suas viagens e passeios, e Luíza, sua governanta, mais conhecida em Pesqueira pelo apelido de Caêta.
Coronel Candinho é um dos personagens mais fascinantes da história de Pesqueira. Diz-se que mesmo sendo detentor do título de Barão de Cimbres, tendo sido chefe do partido Liberal no município, juiz municipal e de órfãos e ocupando o posto de coronel comandante da Guarda Nacional, não se via nele traço algum de ostentação de orgulho diante de sua projeção local, sendo descrito por José de Almeida Maciel (no livro Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres) como um homem polido, de maneiras fidalgas, de espírito religioso e caritativo, de conversação culta, fluente, educada e agradável.
O 2° Barão de Cimbres era religioso e muito caridoso, sendo esta característica de sua personalidade notada principalmente no tratamento em relação aos escravos, pois relata-se que jamais maltratou ou deixou maltratar qualquer um destes. Também em relação a isso, é necessário lembrar que segundo Luís Wilson (em Ararobá, lendária e eterna), após a abolição, o Barão comprou a fazenda Cachoeira e dividiu a propriedade entre seus escravos pais de família de modo que cada um destes passou a ter seu próprio pedaço de terra.
Por ocasião de sua morte, em 10 de janeiro de 1894, ficou ainda mais evidente o espírito caritativo do Barão, quando em testamento deixou divididos os seus bens não só entre os parentes, porém também entre seus escravos e funcionários, além de ter doado ainda uma parcela de sua herança para a construção de um cemitério onde seriam enterrados os pobres.
Segundo diversas fontes, a maior parte de seus bens foram deixados a seu sobrinho José de Sá Pereira ou Juca, inclusive a fazenda Gravatá, a qual vendeu no mesmo ano de 1894. Lamentavelmente Juca teria se desfeito rapidamente de toda a herança deixada pelo tio.
Coronel Candinho foi um homem de grande importância local e politicamente ativo, porém, suas características que mais chamam a atenção dizem respeito a sua maneira de tratar o próximo, mostrando que o Barão acima de tudo era amante da terra onde viveu e de sua gente humilde. Uma prova incontestável do seu amor por esta terra, foi sua vontade manifestada em testamento, de ser enterrado na igreja de Jenipapo caso morresse em Gravatá. Como faleceu em Recife onde havia passado seus últimos dias tratando de sua doença, foi enterrado lá mesmo em sua cidade natal em um mausoléu no cemitério de Santo Amaro.
Para descrevê-lo, gostaria de usar as palavras do escritor Guilherme Auler, que na minha opinião o descreveu de forma brilhante:
“Religioso, temente a Deus e confiante na sua misericórdia divina; tradicionalista, amigo da sua terra, querendo ser sepultado onde vivêra; caridoso, amigo dos pobres e lembrando-se dos mesmos até que eles tenham uma última morada; senhor que premeia os seus alforriados escravos; bom amigo, bom parente, que a todos contemplou na sua generosidade derradeira”
Que homens como este nunca sejam esquecidos. 
20 de abril de 2013.
133 anos da elevação da vila de Pesqueira a cidade.

Por Marciana Nascimento
Fontes:
Livro Pesqueira e o Antigo termo de Cimbres, de José de Almeida Maciel
Livro Ararobá, lendária e eterna de, Luis Wilson
Livro Caboclos do Urubá, de Nelson Barbalho


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

A Casa Grande da Fazenda Gravatá | Por Marciana Nascimento

A fazenda Gravatá fica localizada a aproximadamente 4 quilômetros do centro da cidade de Pesqueira e foi fundada em 1818 pelo sargento-mor Antônio Cavalcanti de Albuquerque Melo em terras encravadas na propriedade da fazenda Poço Pesqueiro, pertencente a seu tio Manuel José de Siqueira, capitão-mor fundador da cidade. A casa grande (Figura 1), cuja fachada dizem possuir 75 metros de extensão, conta com vários cômodos (todos amplos), incluindo três salas, oito quartos, copa e cozinha e uma capela interna. Na propriedade havia ainda uma cisterna imensa, um engenho de rapadura, uma bolandeira utilizada para descaroçar algodão e um açude (1).


Figura 1
Foto: Nascimento, 2011

Alguns anos depois a propriedade da fazenda passou para o comendador Antônio de Siqueira Cavalcanti, que era da mesma família, até que em 1874 a mesma foi vendida ao major Cândido Xavier Pereira de Brito, o caridoso Barão de Cimbres. Seu Candinho, como era conhecido, era um homem de atitudes honestas e religioso. Dizem que nunca maltratou, ou deixou maltratar, qualquer dos seus escravos. O que pode ser considerada uma prova da sua convivência tranqüila com os escravos é o fato de ter mandado construir uma nova senzala ao lado da casa grande, para que os escravos ficassem perto da residência. Diz-se que o Barão, assistia com satisfação os festejos no pátio da casa, organizados todos os anos pelos escravos que celebravam a devoção a Nossa Senhora, rezando a novena e fazendo grande festa no último dia do mês de maio. Esta celebração era compartilhada inclusive por muitos vizinhos moradores das redondezas atraídos pelos festejos (1).


A casa encontra-se atualmente bem conservada, inclusive a senzala ao lado, que contém poucas avarias (Figura 2). Diz-se que até as portas e janelas são ainda as originais.


Figura 2
Foto: Nascimento, 2011

Depois da morte do barão, em 1894, a fazenda passou, por herança a seu sobrinho José de Sá Pereira, que era conhecido por Juca. Logo em seguida a propriedade foi vendida ao cel. Antônio Cordeiro da Fonseca e, após sua morte, nos anos 20 do século passado, passou por compra para a propriedade de Praxedes Didier, estando em posse da família até os dias de hoje.


Por que deve ser restaurada e tombada
A Casa da Fazenda se encontra em bom estado de conservação, porém há sinais superficiais de deterioração em alguns pontos da edificação. É necessário se considerar a restauração e o tombamento da Casa Grande da Fazenda Gravatá porque seu  valor histórico é incontestável, sendo uma das últimas construções da região, se não a última, que preserva ainda esta estrutura típica de fazendas do século XIX, mantendo inclusive ainda a existência da senzala.


Teoria da Restauração de Camillo Boito
Para restaurar o referido patrimônio, poderia ser aplicada a teoria da restauração de Camillo Boito, que consistia em preservar prioritariamente o valor histórico do edifício. Para o teórico, o restauro era considerado uma opção a ser evitada, pois ele defendia que a preservação da edificação deveria ser mantida ao longo do tempo, evitando assim que esta viesse às ruínas. A restauração era vista por ele como um ato de intervenção que somente seria usado quando extremamente necessário, após os procedimentos que garantissem a manutenção do monumento histórico. No caso de ser necessária, Boito defendia que deveriam ser preservadas e evidenciadas as características da obra original, de modo que ficasse em evidência a intervenção, para que se distinguisse claramente a obra antiga e o restauro, já que o teórico priorizava o valor documental das construções.


Marciana Nascimento.


Referências Bibliográficas:
(1)   WILSON,Luís. Ararobá,Lendária eEterna. Pesqueira:Prefeitura Municipal.1980.

Matéria adaptada do trabalho acadêmico “Bens Patrimoniais da cidade de Pesqueira” do componente curricular Preservação do Patrimônio Cultural (PPC) ministrada pela Professora Formadora Viviane Castro e pela Tutora Martha Queiroz do curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental- IFPE ( fevereiro/2012).


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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.
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