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Igreja de Nª Sra. das Montanhas Foto: Paulo Ricardo Nunes |
Até os dias de hoje a informação sobre a instalação da freguesia em 1692 tem ecoado, figurando a mesma inclusive na Diocese de Pesqueira como a paróquia mais antiga sob sua jurisdição. É importante observar que ela é na verdade a mais antiga de todo o interior do Estado. Segundo Luiz Wilson (Em Ararobá Lendária e Eterna, 1980), mais velha que as de Tacaratu (de 1772), Flores (de 1783), Garanhuns (de 1778), Buique (1792) e do Brejo da Madre de Deus (de 1797)
No entanto o assunto em questão agora não é simplesmente a criação da freguesia, mas a construção da igreja que lhe serve como sede até os dias de hoje.
As informações sobre ela são poucas e, de certa forma, contraditórias. O fato da descaracterização e desaparecimento de alguma construções da vila de Cimbres é um dos fatores que muito dificulta o entendimento dos fatos.
No termo de declaração da criação da Mui Nobre e Real Vila de Cimbres (disponível em Livro da Criação da Vila de Cimbres, FIAM/CEHM, 1985) constata-se que os padres do Oratório de São Felipe Neri tinham à sua disposição algumas dependências, e ficou determinado pelo Dr. Manoel Gouveia Álvares (ouvidor de Alagoas) que nelas seriam instaladas provisoriamente as cadeias e casa de audiências da nova vila até que as construções oficiais fossem erguidas. O ponto é que, ao determinar a localização do pelourinho e das construções oficiais, fica claro que a igreja já estava lá, no mesmo local que está hoje. A data do termo é 03 de abril de 1762:
“… para que se acha levantado o pelourinho de tijolo e cal no meio do dito terreiro e rua larga, defronte da dita igreja matriz e apartado dela notável espaço e distância e a mesma área e terreno foi determinado para praça pública e que a um dos lado, que é o da parte de sul, se edificassem as casas de audiência e as de cadeia…”
Percebe-se claramente que a vila já tinha o formato nos moldes que tem nos dias de hoje. É importante observar que o pelourinho não existe mais e que, em seu lugar, foi erguido um cruzeiro como marco cristão pelo frei Caetano de Messina, OFMcap, em 1852.
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Planta Atual de Cimbres Pelo arquiteto André Lemoine Neves |
O frade capuchinho, um dos maiores missionários que sem tem notícia do século XIX, foi responsável pela reforma da velha igreja em 1852. Esta é porém informação que levanta algumas dúvidas. Vários escritores e historiadores são enfáticos em dizer que a igreja foi RECONSTRUÍDA pelo frade. Mas não se sabe se o termo é o mais correto. Talvez a igreja tenha estado em situação de conservação tal que a reforma promovida pelo religioso tenha sido praticamente uma reconstrução. No entanto o mesmo termo já foi usado para explicar a obra feita no prédio do Senado da Câmara de Cimbres em 1950 pelo então prefeito Ésio Araújo. Mas na verdade o prédio do Senado não passou por reconstrução alguma. Como se pode confirmar por fotografia de 1945/47 (em Ararobá Lendária e Eterna, 1980), o prédio estava em lamentável situação, com tijolos aparentes e outras avarias. Mas a informação sobre sua reconstrução não procede. Como o próprio prefeito divulgou na época, uma fotografia constante no álbum de sua administração mostra que o acabamento das paredes foi refeito, dentre outras melhorias, mas a forma original da construção não sofreu alteração e nada foi demolido ou refeito na estrutura.
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Interior da igreja Foto: Edson Regis Lima |
Segundo historiadores, como Gilvan de Almeida Maciel (em notas para o Livro da Criação da Vila de Cimbres), a igreja de Nossa Senhora das Montanhas foi fundada por Lourenço das Neves Caldeira (que era descendente de Manoel Caldeira, feitor de João Fernandes Vieira) e sua esposa Josefa de Torres Galindo e funcionou por muitos anos na casa dos oratorianos. O brilhante e sempre respeitável Gilvan Maciel afirma ainda que a atual igreja foi construída pelo tenente-coronel Antônio Francisco Cordeiro de Carvalho em 1843.
Surgem então mais dúvidas: se a igreja foi construída em 1843, como pôde ter sido reconstruída em 1852, apenas nove anos depois? Parece tempo por demais curto para justificar uma obra desse tipo. Até mesmo Pesqueira, que naquele tempo já era bem maior que Cimbres, contava apenas com a pequena capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens, da fazenda de Manoel José de Siqueira. O que levaria então o frei Caetano de Messina a mover a obra de uma igreja em Cimbres bem maior que a capela de Pesqueira?
Ainda confirmando a existência da igreja antes de 1843, há um mapa datado de 1811 das terras dos padres oratorianos que já indica a igreja no alto da serra. Ainda é preciso lembrar que a freguesia foi instalada em 1692, sendo pouco provável ter funcionado em lugar improvisado até 1843.
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Trechos de mapa de 1811 Por José da Silva Pinto |
Vamos agora recorrer a um dos maiores conhecedores da história Pernambucana, Pereira da Costa (em Anais Pernambucanos, volume IV. Arquivo Público Estadual. Recife, 1954):
“Não se sabe se foi reconstruída por Antônio Cordeiro de Carvalho, que também encontro como fundador da igreja. Seja como for, a que serviu de Matriz foi reconstruída em 1852 por Frei Caetano de Messina”.
O grifo é nosso.
Pereira da Costa lava as mãos sobre a questão.
Ao que parece, a igreja da qual estamos falando é mesmo anterior a 1843, há elementos mais que suficientes para afirmar que em 1762 ela já estava no lugar onde está hoje e que foi reformada de alguma forma pelo frei Caetano de Messina. O que não está claro é se a igreja de Antônio Cordeiro de Carvalho é a mesma ou se é outra, e qual foi a obra por ele realizada.
Com as fontes que se tem disponíveis é o que se pode resumir sobre a velha igreja de Nossa Sra. das Montanhas. Dificilmente novas informações serão acrescentadas às que já existem, já que outros elementos são desconhecidos até pelos maiores conhecedores da história cimbrense. É certo que a impotência de não podermos contar melhor sua história não vai impedi-la de continuar de pé por todos os anos que vierem pela frente, mas enquanto isso vamos continuar carregando essa dúvida.
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Igreja com o Senado da Câmara no fundo à direita e o Cruzeiro à frente Foto: O Nordeste |
NOTAS:
- A planta do arquiteto André Lemoine Neves mostra na verdade, em linhas tracejadas, quadras que não chegaram a ser construídas. As quadras numeradas com “4” são quadras originais do século XVIII existentes nos dias de hoje.
- A freguesia de Garanhuns não é de 1778 e sim de 1786, ano em que o curato de Santo Antônio de Ararobá foi promovido a paróquia.