Categoria: Construções históricas

As casas do Maestro Tomás de Aquino – parte 1

Marcelo do Nascimento

A maioria de nós já ouviu falar do Maestro Tomás de Aquino, principalmente pela rua que leva seu nome. Com certeza sua importância para a cultura pesqueirense vai muito além, mas pelo fato de ter morado em três imóveis interessantes e ter sido um dos primeiros investidores imobiliários da cidade no começo do século XX, esta notas, que aqui se iniciam, valerão a pena ser registradas.

Fachada original da primeira casa do Maestro Tomás de Aquino em Pesqueira. A construção data de 1883.

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O Prédio do Senado de Cimbres [fragmento]

Por  Marcelo Oliveira do Nascimento

*Esse artigo  é um  fragmento
do livro inédito Pesqueira Histórica – Volume 2

  As chamadas casas de câmara e cadeia são talvez o símbolo mais importante do poder das antigas vilas do Brasil. Combinado ao pelourinho e a igreja matriz, formavam seu conjunto administrativo, judicial, legislativo e religioso, sendo estas as bases de seu funcionamento.

 Tais funcionalidades obrigavam as construções a ter um formato padronizado. Eram formadas geralmente por dois pisos. Na parte de baixo funcionava a cadeia, com duas ou mais janelas com grades que davam para a frente. Essas janelas davam para as celas, que eram duas, uma para cada sexo. No piso de cima funcionava a administração e a justiça.
Em Cimbres, o chamado prédio do senado da câmara não segue esse padrão, como pode ser comprovado facilmente com uma análise visual. Ele é formado por um único piso, uma construção bastante modesta que, aparentemente, não tem espaço suficiente para abrigar todas as funções necessárias ao funcionamento da vila.
O que ocorreu no caso de Cimbres é que seu alvará de criação determinou que o governo fosse instalado provisoriamente num salão pertencente aos padres do Oratório de São Filipe Neri. O senado deveria funcionar ali até que a sede definitiva fosse construída, o que acabou nunca acontecendo.
Polêmica é coisa que não falta na história local. Entre tantas existe adata daconstrução do prédio do senado cimbrense. Emborahajam dúvidas,ele deve datar bem antes de1836, já que naquele ano a sede do munício foi transferida para Pesqueira depois de anos de indicativos de que o fato ocorreria. Com certeza o governo não construiria um prédio com a previsão de, em poucos anos, ser desativado.
A primeira determinação quando da criação do município era que o novo governo devia aproveitar a casa dos padres oratorianos para se instalarenquanto o prédio adequado não fosse construído: ficará para as audiências e Câmara a sala nova e grande que os mesmos padres missionários acrescentaram às casas de sua residência” (66). Percebe-se que o espaço que devia ser usado era uma sala anexa à casa de residências dos padres. Entendemos que não era uma sala dentro da residência e sim um acréscimo à estrutura já existente. O que não está claro é se esta sala se ligava diretamente à casa ou se era isolada da mesma. No trecho seguinte temos outra pista: “nestes termos lhe ficará sendo supérflua [ao novo vigário] a dita nova sala e casa” . Parece que eram estruturasindependentes a casa e a dita sala. E ainda parece que a casa era um sobrado pois os oratorianos “deixam casas bastantes e de sobrado para a acomodação muitolarga de qualquer outro pároco”.
O que se vê atualmente na área ao redor do prédio do senado em Cimbres são algumas casas residenciais de construção recente. Se havia uma casa antiga ou sobrado que pertencera aos oratorianos, há muito tempo não existe mais. Dessa forma não podemos garantir que o prédio seja a sala citada no texto de 1762. No mais, o prédio foi construído isolado por todos os quatro lados.É interessante observar também que o prédio tem divisórias internas bastante primitivas, com madeiramento das forras das portasnos mesmos moldes da porta de entrada bem como das janelas externas. Esse detalhe o invalida como “sala”, a menos que as divisórias tenham sido feitas depois, mas não é o que parece.
Durante o passar dos anos, é natural que muitas histórias apareçam e, até que se obtenha documentação para validá-las, nunca saberemos sobre sua autenticidade. O velho prédio do senado, além de não conseguir comprovar sua data de “nascimento”, como se não conseguisse descansar em paz, é envolto num mistério, tudo depois de uma reforma feito pelo então prefeito do município Ésio Araújo. O que o ocorre é que alguns dizem em Pesqueira que durante aquela obra o prédio foi literalmente reconstruído. Há quem diga que ele foi demolidoe em seguida refeito tijolo a tijolo!

A primeira pessoa a questionar esta versão dos fatos foi Marciana Nascimento, que estudou a única fonte sobre a obra encontrada até agora: o Álbum do Município de Pesqueira (1948-1951).

De fato, não parece ter havido reconstrução e sim reforma. Pelo menos é isso que encontramos documentado, além do fato de não encontrarmos lógica na demolição para posterior reconstituição. Qual a vantagem de uma obra deste tipo?
Talvez essa história, que acredito ser apenas lenda, tenha surgido pelo uso inadequado (?) do termo “reconstrução”. Encontramos largamente na história de Pesqueira esse termo sendo usado como reforma, melhoramento, recuperação, etc. Foi assim com a igreja matriz de Cimbres, com a capela de Pesqueira, com o antigo talho municipal, dentre outros casos.

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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

O Talho Municipal de 1924


A primeira metade da década de 1920 registrou muitas obras no município de Pesqueira. Algumas são creditadas ao governo do Estado, mas muitas foram feitas pelo próprio governo local, no caso, na administração de Cândido de Brito, o popular Major Candinho. Entre elas, a de maior valor arquitetônico (sem discutirmos sua utilidade pública) foi o Talho Municipal. O termo caiu em desuso, mas, felizmente, se mantém gravado na fachada até hoje.
A gravação do ano de sua construção também está intacta no frontispício: 1924. Já são quase 90 anos do prédio e, pelo que observamos, restam poucos da mesma espécie e época no Estado.
Aquela década foi bastante movimentada em Pesqueira. Em 1925, o governador Sérgio Loreto visitou a cidade. Entre as obras do Estado da época, registramos a cadeia pública e o grupo escolar Virgínia Loreto como exemplares de bela arquitetura ainda hoje preservados. As edificações foram inauguradas em 1924 e 1925. Aliás, a viagem do governador à cidade foi para atender o convite para a inauguração do grupo escolar.
É natural que o Estado, com mais recursos e provavelmente munido de bons profissionais da área da arquitetura e construção, fizesse obras tão bem acabadas como as citadas. E isso reforça ainda mais o espanto com que se encara a arquitetura do antigo talho construído pelo município, que ainda hoje chama a atenção pelos belos traços. Preferências a parte, é evidente que a predominância atual das edificações sem qualquer identificação de estilo (e gosto muitas vezes duvidoso), amplifica a beleza das antigas construções.
Outro fato curioso é o acanhado tamanho da construção original, que corresponde à parte da esquerda de quem a mira de frente, exatamente a parte referente à fachada desenhada. Até 1950 o talho tinha apenas aquela pequena área e um curral ao lado. Com o tempo, com o aumento da população, da economia e, consequentemente do consumo, o talho ficou pequeno demais.
Em 1951, no governo de Ésio Araújo, a prefeitura procedeu com uma grande ampliação no prédio. Tenho a impressão que pelo menos duplicou de tamanho. Na obra foi previsto o gasto de Cr$ 600.000,00 e a previsão de finalização era meados de novembro de 1951, conforme encontramos no álbum Município de Pesqueira 1948 – 1951, publicado no fim daquele último ano, na gestão de Ésio Araújo:
Iniciada recentemente, encontra-se em plea plena atividade a construção do majestoso edifício do Açougue Público Municipal e que será entregue à população pesqueirense em meados de Novembro próximo. A despesa consignada no orçamento dessa importante obra é de Cr$ 600.000,00.


No mesmo álbum, em seguida, consta a informação de que a ampliação foi feita no curral lateral. Podemos constatar visualmente, mas o texto confirma:
A construção do Açougue Público no local onde estava destinado ao recolhimento do gado em dias de feira, motivo à edilidade construir um novo e amplo curral para os animais, dispondo de cocheiras, gastando com essa iniciativa a quantia de Cr$ 21.669,80.
(Ob. cit., sem numeração de páginas)


O segundo curral, creio, foi feito no início da estrada de Poção, logo após o cruzamento da rua Carlos Leitão com a avenida Ésio Araújo.
Cabe a ressalva que não houve construção do açougue daquela vez, como consta no texto, a obra era na verdade uma reforma do prédio já existente desde 1924, uma ampliação. Em Pesqueira se registra muito “construção” ou “reconstrução” no lugar de ampliação reforma, recuperação, etc. Isso muitas vezes impede o entendimento correto dos fatos.
O termo “majestoso edifício” denuncia a percepção do seu estilo e bom gosto mesmo naquela época.
A reforma empreendida por Ésio Araújo é bastante interessante para se observar o estilo arquitetônico de cada época. Percebemos com facilidade o contraste entre os dois estilos do prédio. A parte original da época do Major Candinho, embora simples, é bem desenhada, com curvas e certo requinte. A parte “nova”, da época de Ésio Araújo, é extremamente simples, de linhas retas, sem qualquer rebuscamento. A separação temporal das duas partes nem é tão grande, pouco mais de 20 anos, mas a diferença nos estilos arquitetônicos é evidente.
Segundo informação do Álbum de Pesqueira – 1923 a 1925, o açougue foi inaugurado em 21 de junho de 1925 (41). Curiosamente foi no mesmo dia em que, às 13:30, chegou à estação ferroviária de Pesqueira o governador Sérgio Loreto, mas não encontro registro de sua participação na inauguração.
O açougue funcionou no histórico prédio até 2007, quando o comércio de carnes foi transferido para o prédio da antiga fábrica Peixe, onde já estava funcionando a feira livre. Em 2008 ele passou a abrigar a Universidade Aberta do Brasil, que foi transferida do prédio do CAIC.
Esse novo uso a qual foi destinado, embora nobre, é incompatível com as características da construção, que de forma alguma é apropriada para estudo, leitura ou qualquer outra atividade intelectual. De qualquer forma, enquanto estiver ocupado, é pelo menos mais um motivo para mantê-lo bem conservado.




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Prédio da Fábrica Rosa em processo de tombamento pela FUNDARPE

Nem tudo está perdido! A FUNDARPE deferiu a proposta de tombamento, no mês de maio passado, do prédio histórico da antiga Fábrica Rosa, fundada pelos irmãos Didier em Pesqueira no ano de 1906. A construção, hoje pertencente ao governo do Estado de Pernambuco, entra assim em regime de preservação, mesmo antes da conclusão do processo. Ainda resta a esperança de que o pouco que resta do nosso patrimônio material seja salvo!
A leitura do edital de tombamento permite conhecer os motivos do deferimento da abertura do processo:

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
SECRETARIA DE CULTURA
FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PERNAMBUCO – FUNDARPE
EDITAL DE TOMBAMENTO

A Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco -FUNDARPE, torna público que o Estado de Pernambuco por intermédio do então Secretário de Educação, Dr. Nilton Mota Silveira Filho, deferiu a proposta de Tombamento da ANTIGA FÁBRICA ROSA(Processo SECE nº 0414047-2/2010), ato fundamentado na legislação estadual, CEP/1989, Lei nº 7.970/1979 e Decreto nº 6.239/1980, normas em consonância com a legislação federal pertinente à matéria, CF/1988 e DL nº 25/1937. O bem em questão, de propriedade do Governo do Estado de Pernambuco e cedido parcialmente à Prefeitura Municipal de Pesqueira conforme previsto na Lei nº 11.980, de 07 de maio de 2001 , localizase à Avenida Comendador José Didier, números 166 a 308, Pesqueira (Agreste Central). A incidência deste Instituto Jurídico de proteção pelo Poder Público Estadual sobre o mencionado bem decorre da importância e características especiais como patrimônio construído, detentor de relevante expressão cultural. A Fábrica Rosa possui volumetria e características arquitetônicas preservadas, tornando-se, assim, um notável exemplar do complexo industrial que impulsionou o desenvolvimento e a história da cidade de Pesqueira. Cabe ressaltar a conservação do seu conjunto de edificações e equipamentos que se coadunam com os objetivos do Tombamento, agregando maior valor ao monumento. Pelo exposto, salienta que a partir da abertura do processo de Tombamento, fica assegurado ao referido imóvel, em exame, até a resolução final, o mesmo regime de preservação dos bens efetivamente tombados, conforme estabelecem dispositivos das normas infraconstitucionais acima citadas.

Recife, 23 de maio de 2013.
Severino Pessoa dos Santos
Diretor-Presidente

Feira do Doce e da Renda, 1992
Imagem: Evandro Wanderlei




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A Senzala de Pesqueira

A mão-de-obra escrava era presença certa nas fazendas do século XVIII e XIX (antes da Abolição de 13 de maio de 1888) e com Pesqueira não ocorreu diferente. Até alguns homens de caridade, como era o caso do Barão de Cimbres, dispunham de alguns escravos nem que fosse para atividades domésticas, para manutenção da propriedade, companhia, etc.

A senzala do Barão ficava junto à residência na fazenda Gravatá (hoje pertencente à família Didier). Não conheço outra fazenda que a senzala fique assim localizada em relação à casa grande. É sabido que ele nunca maltratou qualquer um dos escravos e que também costumava assistir aos seus festejos da varanda da casa i. Alguns dos seus serviçais foram citados em seu testamento, e deles, apenas Caêta, a governanta, não era escrava (1). Esse tratamento diferenciado era exceção, seja qual fosse o lugar.

A senzala de Pesqueira deve ter sido construída por volta de 1800, pois em 1801 Manuel José de Siqueira, fundador da primitiva fazenda, já estava estabelecido, casado e já com um filho nascido*. Da construção não encontramos hoje nenhum vestígio, no entanto até algumas décadas atrás ainda havia uma fração dela. O lugar em certa época foi usada como depósito de lixo pela prefeitura (2). Essa fração restante pode ser vista em velhas fotografias do centro de Pesqueira datadas dos anos 20. Em outra, datada de 1911, ela aparece ainda inteira, no entanto pelos fundos. Ela ficava na “rua de baixo”, bem em frente à Casa da Câmara e Cadeia, lugar estratégico para que o proprietário pudesse vigiar o comportamento dos escravos (2), isso se considerarmos que a Casa da Câmara era mesmo originalmente a casa grande da fazenda, tese da qual sou defensor, como já mostrei em outras matérias.
A senzala, por completo, ficava onde hoje estão os números 100 e 112 da rua Cardeal Arcoverde e seguia o padrão encontrado em várias propriedades espalhadas pelo País: uma tira de pequenas casas com algumas portas e janelas de frente coberta por duas águas, construção geralmente bastante ordinária, incompatível com o restante da fazenda. Esse padrão pode ser visto inclusive na fazenda Gravatá, no entanto creio que o material usado neste caso era de qualidade acima da média, pois a senzala continua de pé até hoje, assim como a casa grande do Barão.
Em Pesqueira havia ainda uma senzala de padreação e o casebre de Congo, o reprodutor da fazenda (3). Estas informações são do Pe. Frederico Maciel, que fez uma tentativa (não sei ao certo se bem sucedida ou não) de reconstituir a Pesqueira de mil oitocentos e pouco.
Marcelo Oliveira do Nascimento.
Fontes:
  1. WILSON, Luis. Ararobá, Lendária e Eterna. PMP/CEPE. Pesqueira: 1980.
  2. VALENÇA, Eduardo. Comentário sobre a Casa Grande. Disponível em http://pesqueirahistorica.blogspot.com/2011/12/comentario-sobre-casa-grande.html
  3. MACIEL, Frederico Bezerra. Editora Universitária da UFPE. Recife: 1982.
iNASCIMENTO, Marciana. A Casa Grande da Fazenda Gravatá. Disponível em https://www.pesqueirahistorica.com/2012/07/a-casa-grande-da-fazenda-gravata-por.html
*O primeiro filho de Manuel José de Siqueira nasceu em Pesqueira em 1801. Evidentemente naquele ano ele já estava casado.

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Nossa Senhora das Montanhas

Imagem cedida por Pe. Eduardo Valença

Dentre vários assuntos polêmicos a respeito da nossa história está a construção da igreja de Nossa Senhora das Montanhas em Cimbres. Não vou nem entrar na questão da reforma/reconstrução de 18431, não no momento. O que quero falar agora é sobre o início de tudo, da construção original.
Conforme eu mesmo já registrei2, alguns historiadores afirmam que a igreja foi construída originalmente por Lourenço das Neves Caldeira e sua esposa, que apoiaram os padres da congregação de São Felipe Neri nesta obra. No entanto nenhum deles dá data exata da construção.
Altar da Matriz de Cimbres
Sabemos que em 1680 já havia em Monte Alegre (a futura Cimbres) culto a Nossa Senhora das Montanhas, conforme o comentário de José Antônio Gonsalves de Mello no volume 6 dos Anais Pernambucanos de Pereira da Costa, falando sobre as terras de João Fernandes Vieira:
“Que essas “novas terras” deviam abranger a região do Ararobá pode concluir-se pelas extensas propriedades que ele ali possuía já no ano de 1680, onde tinha como seu representante o Capitão Manuel Caldeira Peixoto, conforme documento datado da Aldeia de Nossa Senhora das Montanhas 28 de dezembro de 1680: Tombo dos bens da Congregação do Oratório do Recife fls. 187v-188.”
Temos também um registro do 2o. Cartório de Garanhuns (Livro 11, fls. 80):
“Saibam quantos este público instrumento de carta de alforria virem como no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e vinte e sete anos nesta Capitania do Ararobá no sítio da igreja de Nossa Senhora das Montanhas missão da dita capitania onde eu tabelião fui vindo aí perante mim tabelião…”
A primeira missão fundada pelo Pe. João Duarte do Sacramento em Pernambuco foi a de Limoeiro em 1662, onde com o a poio do governador Brito Freire, que era seu amigo pessoal, construiu a primeira igreja do Agreste3. A igreja da missão de Ararobá foi então construída posteriormente.
Agora a excelente informação do próprio Francisco de Brito Freire, que era também, além de governador, escritor:
“E para habitarem (os indígenas) na vizinha dos nossos, lhes fizemos duas povoações novas, e Igrejas em ambas, com seu modo de governo, nomes e varas de Ouvidores, e de Juízes, entre si mesmos. Porque cometendo algum culpa digna de demonstração para escramentarem os mais, recebam uns, dos outros, o castigo, e só da nossa mão os favores. Batizados, e assistidos do Venerável Padre João Duarte do Sacramento, que pelo imenso fruto de copiosas almas, é assim aclamado do aplauso universal, como Apóstolo do Brasil.”
Esse trecho de História da Guerra Brasílica (de 1675) é uma transcrição feita por Nelson Barbalho (O.b. Cit. p.77-78). As duas povoações citadas são as missões do Limoeiro (hoje a cidade de mesmo nome) e de Ararobá (hoje Cimbres). Brito Freire deixou claro que a construção da igreja de N. S. das Montanhas se deu em sua época. Ora, sabendo que ele foi governador de Pernambuco entre 1662 e 16644, então é muito provável que a igreja primitiva tenha sido construída nessa época! Isso seria a comprovação de um erro em relação ao ano da fundação da missão de Ararobá, que muitos acham (inclusive eu) ter sido em 1669. Em 1665 Brito Freire já não estava mais no Brasil, e sim em Portugal! Essa informação pode render muito ainda, mas ficará para um momento mais oportuno.
Agora sobre a invocação a N. S. das Montanhas.
Primeiramente preciso reconhecer que jamais tinha ouvido falar sobre qualquer lenda referente à invocação da matriz de Cimbres, mas é Pereira da Costa5quem nos conta como segue:
“A construção do templo, e da sua invocação, se prende uma lenda regional, do encontro de uma linda imagem da Virgem, por uma índia, e que levando-a para sua casa, desaparecera, sendo depois encontrada no mesmo local; e que repetido o fato, foi resolvida a construção de uma capela no próprio sítio, o que foi feito, e colocada a imagem no seu altar, assim ficou e se conserva até hoje, vindo daí a sua invocação de N. S. das Montanhas.”
Não sabemos se a imagem do orago da matriz de Cimbres é ainda a original, mas é bastante diferente das de Santa Águeda e N. S. Mães dos Homens, de Pesqueira. Estas são grandes e imponentes, ambas do século XIX. A de Cimbres é simples, delicada e tão pequenina que quase desparece no topo do altar, mas, maior é que qualquer outra quando o assunto é história e tradição.
Marcelo O. N.
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FONTES:
1 COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Anais Pernambucanos – Volume 6: . 2.ed. Recife: Fundarpe, 1984. p. 239.
2Pesqueira Histórica – Volume 1. Clube de Autores, 2012.
3BARBALHO, Nelson. Cronologia Pernambucana – Volume 5. FIAM/CEHM. Recife: 1982, p. 77.
4ANTUNES, Cristina. http://www.brasiliana.usp.br/node/354 , acesso em 25/08/2012.
5Ob. cit. p. 239.

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A Casa Grande da Fazenda Gravatá | Por Marciana Nascimento

A fazenda Gravatá fica localizada a aproximadamente 4 quilômetros do centro da cidade de Pesqueira e foi fundada em 1818 pelo sargento-mor Antônio Cavalcanti de Albuquerque Melo em terras encravadas na propriedade da fazenda Poço Pesqueiro, pertencente a seu tio Manuel José de Siqueira, capitão-mor fundador da cidade. A casa grande (Figura 1), cuja fachada dizem possuir 75 metros de extensão, conta com vários cômodos (todos amplos), incluindo três salas, oito quartos, copa e cozinha e uma capela interna. Na propriedade havia ainda uma cisterna imensa, um engenho de rapadura, uma bolandeira utilizada para descaroçar algodão e um açude (1).


Figura 1
Foto: Nascimento, 2011

Alguns anos depois a propriedade da fazenda passou para o comendador Antônio de Siqueira Cavalcanti, que era da mesma família, até que em 1874 a mesma foi vendida ao major Cândido Xavier Pereira de Brito, o caridoso Barão de Cimbres. Seu Candinho, como era conhecido, era um homem de atitudes honestas e religioso. Dizem que nunca maltratou, ou deixou maltratar, qualquer dos seus escravos. O que pode ser considerada uma prova da sua convivência tranqüila com os escravos é o fato de ter mandado construir uma nova senzala ao lado da casa grande, para que os escravos ficassem perto da residência. Diz-se que o Barão, assistia com satisfação os festejos no pátio da casa, organizados todos os anos pelos escravos que celebravam a devoção a Nossa Senhora, rezando a novena e fazendo grande festa no último dia do mês de maio. Esta celebração era compartilhada inclusive por muitos vizinhos moradores das redondezas atraídos pelos festejos (1).


A casa encontra-se atualmente bem conservada, inclusive a senzala ao lado, que contém poucas avarias (Figura 2). Diz-se que até as portas e janelas são ainda as originais.


Figura 2
Foto: Nascimento, 2011

Depois da morte do barão, em 1894, a fazenda passou, por herança a seu sobrinho José de Sá Pereira, que era conhecido por Juca. Logo em seguida a propriedade foi vendida ao cel. Antônio Cordeiro da Fonseca e, após sua morte, nos anos 20 do século passado, passou por compra para a propriedade de Praxedes Didier, estando em posse da família até os dias de hoje.


Por que deve ser restaurada e tombada
A Casa da Fazenda se encontra em bom estado de conservação, porém há sinais superficiais de deterioração em alguns pontos da edificação. É necessário se considerar a restauração e o tombamento da Casa Grande da Fazenda Gravatá porque seu  valor histórico é incontestável, sendo uma das últimas construções da região, se não a última, que preserva ainda esta estrutura típica de fazendas do século XIX, mantendo inclusive ainda a existência da senzala.


Teoria da Restauração de Camillo Boito
Para restaurar o referido patrimônio, poderia ser aplicada a teoria da restauração de Camillo Boito, que consistia em preservar prioritariamente o valor histórico do edifício. Para o teórico, o restauro era considerado uma opção a ser evitada, pois ele defendia que a preservação da edificação deveria ser mantida ao longo do tempo, evitando assim que esta viesse às ruínas. A restauração era vista por ele como um ato de intervenção que somente seria usado quando extremamente necessário, após os procedimentos que garantissem a manutenção do monumento histórico. No caso de ser necessária, Boito defendia que deveriam ser preservadas e evidenciadas as características da obra original, de modo que ficasse em evidência a intervenção, para que se distinguisse claramente a obra antiga e o restauro, já que o teórico priorizava o valor documental das construções.


Marciana Nascimento.


Referências Bibliográficas:
(1)   WILSON,Luís. Ararobá,Lendária eEterna. Pesqueira:Prefeitura Municipal.1980.

Matéria adaptada do trabalho acadêmico “Bens Patrimoniais da cidade de Pesqueira” do componente curricular Preservação do Patrimônio Cultural (PPC) ministrada pela Professora Formadora Viviane Castro e pela Tutora Martha Queiroz do curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental- IFPE ( fevereiro/2012).


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Sobre a Data da Capela de N. Sra. Mãe dos Homens

Nas pesquisas sobre a data da construção da capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens, encontramos duas informações conflitantes: 1802 e 1822. Eu, particularmente, sempre achei que o correto fosse a data mais antiga, conforme já registrei aqui mesmo no site (ler aqui) e no meu primeiro livro (1), no entanto, depois da releitura de algumas fontes e o encontro com novos registros me deixaram numa grande dúvida.
A fonte principal que me levava a ter como certo o ano de 1802 é o registro de Zeferino Galvão na sua monografia Pesqueira em 1920 (2), pois ele, além do grande conhecimento que tinha (sobre diversas áreas, e não só sobre Pesqueira), deve ter conhecido bem a primitiva capela. Esse é o registro mais antigo que encontro tratando da data da construção. O Livro do Tombo da Paróquia de Santa Águeda, que funcionou até 1888 na capela, registra o fato do seu funcionamento provisório, mas não fala nada sobre a época da construção:
Até o ano de 1889, nesta cidade de Pesqueira, ainda não havia uma igreja nas condições de ser matriz da freguesia, apenas tínhamos uma capelinha de antigos fazendeiros da localidade que, por suas acanhadas proporções, não acomodava mais de duzentas pessoas.
É importante lembrar ainda que Zeferino Galvão nasceu em 1864 e chegou a Pesqueira ainda na infância, por volta de 1868/69 (3) . Logo, quando a capela foi reformada em 1920, tinha ele 56 anos de idade. Em resumo, teve tempo suficiente para bem conhecer a construção.
O ponto no qual quero chegar é a existência de uma gravação em baixo relevo na soleira do templo: “1822”, conforme nos conta o Pe. Frederico Maciel (4). Creio que Zeferino sabia da existência da inscrição citada, então por que afirmou que a construção ocorreu em 1802? Há duas respostas possíveis para esta indagação:
  1. Zeferino conhecia algo mais, tinha mais informações que lhe davam a certeza de que o “1822” gravado na capela dizia respeito a outro fato ocorrido e não à sua construção;
  2. Ocorreu um erro tipográfico quando da impressão da Antologia. Zeferino pode ter tido a intenção de escrever “1822” e a tipografia imprimiu “1802”. Mas vale dizer que na edição há uma errata que não cita o possível erro!
Já Pereira da Costa diz que o patrimônio da capela foi instituído em 1822 (5), sendo esse um forte indicativo de que é esse o ano correto da sua fundação. Se a data correta for 1802, a capela deve ter ficado sem funcionar por 20 anos, já que a Diocese de Olinda não autorizaria seu funcionamento sem patrimônio.
Por último gostaria de lembrar que nem sempre as datas gravadas nos antigos prédios dizem respeito à suas construções, mas também às reformas neles executadas. Podemos observar esse fato em Pesqueira nos seguintes exemplos: Fábrica Rosa (reforma em 1910, gravação na fachada. A construção é de 1906), Talho Municipal (construção em 1924, gravação na fachada), Fazenda Gravatá (reforma em 1905, gravações nos oitões. A construção é de 1818). A própria capela tem hoje uma gravação no piso: “1932”, que evidentemente não corresponde à construção nem a reforma de 1920. Esta nova data deve indicar uma outra reforma ocorrida naquele ano.
Acredito que seria uma boa ideia recolocar a inscrição original de 1822, adicionar “1920” (a reforma de Dom José Lopes) e manter o “1932” atual. Há uma igreja num dos engenhos de Moreno que mantém duas datas: a da construção em 1840 e a da reforma em 1990.
Evidentemente o assunto não está encerrado, ainda temos outras fontes não exploradas adequadamente. Seja como for, estou escrevendo um livro especialmente sobre a fazenda Poço da Pesqueira, no qual terei espaço para explorar esse e outros assuntos com a profundidade devida.
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FONTES:

1 NASCIMENTO, Oliveira do. Pesqueira Histórica – Vol. 1. Ed. Do Autor. Pesqueira, 2102
2 GALVÃO, Zeferino. Antologia. Governo de PE. Pesqueira, 1924. p.91.
3 WILSON, Luis. Anísio Galvão – E outras notas para a história de Pesqueira. Camâra de Vereadores. Pesqueira, 1986. p.24.
4 MACIEL, Frederico Bezerra. Ubassagas. Ed. Universitária da UFPE. Recife, 1982. p.300.
5 COSTA, Pereira da. Anais Pernambucanos – Vol. 10. FUNDARPE. Recife, 1985. p.82.


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Sobre a Reforma do Senado de Cimbres | Por Marciana Nascimento

Senado antes da reforma
Coleção de Jurandir Carmelo

Embora esta história esteja hoje esquecida, tempos atrás (vez ou outra) ouvia-se alguém falar na reconstrução do prédio do Senado de Cimbres. Eis um bom questionamento: o que se quer dizer com isso?
Acredito que a história surgiu a partir da obra feita pelo prefeito Ésio Araújo, fato comprovado pelo álbum do Município de Pesqueira (1948-1951). No entanto a tal “reconstrução” é que não é comprovada.
Encontramos no livro Pesqueira e Antigo Termo de Cimbres, de José de Almeida Maciel (FIAM, 1980), o texto da lei que autorizou a reforma. Vejamos o trecho:
Projeto de Lei nº 26 EMENTA – Abertura de um crédito até Cr$ 10.000,00 para restauração do prédio do antigo Senado de Cimbres.
A Câmara Municipal de Pesqueira resolve:
Artigo 1º – Fica o Prefeito do município autorizado a abrir um crédito especial de até Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) a fim de providenciar os reparos e demais serviços que se fizerem necessários no prédio onde funcionava, ao tempo do Brasil-colônia, o Senado da Câmara da Vila de Cimbres.
§ UNICO – A Prefeitura não permitirá que o prédio no estilo colonial da época seja descaracterizado em sua feição arquitetônica, inclusive nas primitivas divisórias internas.
Artigo 2º – Revogam-se as disposições em contrário.
[…]
S.S. da Câmara Municipal de Pesqueira, em 10 de junho de 1948.
José de Almeida Maciel
Felix Alves Maciel”
A lei é clara e enfatiza a preservação da originalidade do prédio.
Também é conveniente observar na foto da coleção de Jurandir Carmelo (no topo da matéria) que o estado do prédio era ruim, mas acredito que não a ponto de o mesmo ser levado abaixo e ser reconstruído em seguida. A imagem data entre 1945 e 47, antes da reforma portanto. Fato parecido é o que parece ter ocorrido com a matriz de Nossa Senhora das Montanhas da Vila de Cimbres (ver A Velha Igreja de Cimbres e seu adendo), da qual consta reforma/reconstrução em 1843 e em 1852.
No álbum já citado encontramos a informação de que a Prefeitura “pede meios para restauração do Senado da Câmara de Cimbres, relíquia essencialmente histórica, construído ao tempo do Brasil Colônia”. Ainda na mesma publicação constatamos que a obra de “restauração” foi iniciada ainda em 1948 e custou inicialmente Cr$ 11.100,00 e ao final, no ano seguinte, alcançou Cr$ 15.514,00.
E, finalizando as citações do álbum de Ésio Araújo, vejamos a legenda da foto do prédio com a obra já finalizada: “O Senado da Câmara de Cimbres, construído ao tempo do Brasil Colônia, é uma verdadeira relíquia histórica do município de Pesqueira. Encontrava-se num lamentável estado de ruínas. Foi totalmente restaurado”.Observem que a obra é sempre tratada como “restauração” e o valor histórico do prédio é sempre destacado. Não encontra-se registro de demolição, reconstrução, etc; encontramos apenas os termos “reforma”, “reparo” e “restauração”.
Senado após a reforma
Imagem cedida por Eulália Araújo Neves
Em resumo, não podemos comprovar que o prédio foi demolido e reconstruído e tudo que se tem de oficial, documentado, é que o mesmo passou por uma reforma, mantendo inclusive suas características originais. Outra dúvida a respeito é a sua data de construção. Geralmente o que se encontra nas obras dos historiadores de Pesqueira é que o mesmo é da época do Brasil colonial, e nada mais. No entanto, deixemos o assunto para um outro momento.
Por Marciana Nascimento.
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