Autor: Marcelo Oliveira Nascimento

Marcelo Oliveira Nascimento é historiador, formado em Sistemas de Informação com especialização em História e Antropologia. É sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Pesqueira e autor de vários livros sobre a história de Pesqueira e Cimbres. É administrador do Pesqueira Histórica desde 2010, que conta com site, podcast e um canal no YouTube, plataformas todas voltadas à divulgação da história local.

Casamentos em Jenipapo – parte 2 [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento

No mesmo livro onde se registrou o matrimônio de Siqueira e Clara estariam registrados os casamentos de Domingos de Souza Leão e Tereza de Jesus Coelho dos Santos e de Francisco Xavier Paes de Melo Barreto e Ana Vitória Coelho dos Santos.

O enlace de Souza Leão com Tereza de Jesus, conforme conta Nelson Barbalho, ocorreu em 1810. [BARBALHO, 1977, pp. 127-128]:
Tenente-coronel Domingos de Souza Leão, moço de fino trato, natural de Olinda, descendia em linha reta da Casa do Moreno, em Rãs, Portugal, ou, mais especificamente, da nobre família Souza Leão, do Porto. Na casa-grande da Fazenda Jenipapo, aos 13 de novembro de 1810, com festividades de dois dias de duração, casa com a jovem Tereza de Jesus Coelho dos Santos, fixando residência ali mesmo, a pedido da sogra, aliás. Dentro de pouco tempo se torna um dos influentesdo Urubá, vereador, político, presidente do Senado da Câmara de Cimbres, seu juiz ordinário. (grifos do autor)
O novo casal, mais tarde, seria os pais de Domingos de Souza Leão Jr., o barão de Vila Bela, importante figura na história de Pernambuco. Como antes falamos, o livro de matrimônio está desaparecido e Barbalho não cita a fonte da qual teria tirado a data exata do casamento, mas é provável que tenha se baseado em nota (já citada) do Diário de Pernambuco do ano de 1878 sobre a morte de Tereza de Jesus Coelho de Souza Leão (esse era seu nome de casada), em cujo trecho encontramos:
Em 13 de novembro de 1810, tendo 20 anos de idade nessa quadra em que a vida se povoa das mais encantadas visões, casou com o tenente-coronel Domingos de Souza Leão []
Também não sabemos de onde veio a informação das “festividades de dois dias de duração”.
[CONTINUA…]
Bibliografia
BARBALHO, Nelson, Caboclos do Urubá,  1977.

 Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.


Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.

Casamentos em Jenipapo: Parte 1 [fragmento]

Foto: Renato Julião

Antônio dos Santos Coelho da Silva era o rico proprietário da fazenda Jenipapo, hoje pertencente ao município de Sanharó. Muitos o apontam como um dos homens mais ricos de Pernambuco em sua época. E não era por acaso, pois ele não se acomodou quando herdou sua imensa propriedade de terras de criar. Na verdade foi ele quem transformou essas terras numa máquina de construir riquezas. Segundo Nelson Barbalho, ele “havia chegado a Pernambuco de mãos abandonando, pobre de Job, sem eira nem beira” e “trabalhando de sol a sol, economizando muito, gastando pouco, tornara-se, depois de algum tempo, o homem mais rico da região” (1).

Como não teve filhos varões, mas moças apenas, sua casa tornou-se assim um atalho para o poder e para a riqueza, trilhado por homens de todas as partes de Pernambuco.
A filha mais velha do casal Antônio dos Santos Coelho da Silva e Tereza de Jesus Leite era Clara Coelho dos Santos. Ela foi a primeira a se casar e seu pretendente era Manuel José de Siqueira, da fazenda Jeritacó, filho de Pantaleão de Siqueira Barbosa, português tão citado na historiografia local.
Não se sabe exatamente em que ano e lugar ocorreu o casamento dele com Clara. Em 1802 foi quando nasceu o primeiro filho do casal, a menina Ana Clara Coelho de Siqueira, assim o casamento certamente é de data anterior (2). Em todos os trabalhos que se lê sobre a história de Pesqueira, encontra-se sua fundação como ocorrida em 1800 e tendo Siqueira como fundador. A confirmação dessa informação poderia ajudar a elucidar o capítulo do casamento, já que Pesqueira foi construída em terra recebida como dote, não havendo dúvida sobre isso. Quem confirma a informação do dote e, ao mesmo tempo questiona a data da fundação de Pesqueira, é Augusto Duque, no seu trabalho já citado: Documento Sobre o Agreste, de 1947. Segundo ele, na página 14 daquela publicação, o “sítio Pesqueiro” foi dado a Siqueira em 1801. Assim,é provável que o casamento tenha sido naquele ano ou pouco antes. Sobre o lugar da celebração, o mais provável é que tenha sido em Cimbres, pois naquela data a fazenda Jenipapo ainda não tinha capela, a não ser que a celebração tenha ocorrido na casa-grande, como também era comum na época.


Marcelo O. do Nascimento

Bibliografia
1: BARBALHO, Nelson, Cronologia Pernambucana – Vol. 9, p. 240.
2: NASCIMENTO, Marcelo O. do, Pesqueira Histórica – Vol. 2, p. 40.
Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

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A fazenda Jenipapo [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
Enquanto no sertão do Moxotó eram fundadas várias fazendas e sítios de lavoura e criação, a partir de meados do século XVIII, um lugar muitas léguas distante dali, crescia tanto em importância, que em 3 de abril de 1762 era elevado à categoria de vila e sede de município, a tão referenciada Cimbres.

[…] A povoação, com sua igreja matriz e, mais ainda, a partir de 1762, como sede de governo, atraiu um mundo inteiro para lá. Cada homem, querendo uma fatia do poder recém-instalado, começou a subir a serra do Ararobá até alcançar o senado da câmara. Entre estes estava o português Antônio dos Santos Coelho da Silva. 
[…]
Não exatamente, onde ficava o senado, mas, começando a umas três léguas abaixo, o português era dono de uma imensidão de terras, que se estendiam da atual cidade de Pesqueira até alcançar as fronteiras atuais dos municípios de Sanharó e Belo Jardim. Tais propriedades foram antes dos padres oratorianos, os mesmos que foram proprietários também das terras de Pantaleão de Siqueira Barbosa [no Moxotó]. No entanto, Santos Coelho não as adquiriu diretamente àquela congregação religiosa, mas as herdara de sua tia, a misteriosa e pouco registrada nos livros de História, Suzana da Silva [CARACIOLO, 1998, p. 37], que como se percebe era mais rica de bens do que de nome.
É unânime entre os historiadores que suas terras foram passadas a Antônio dos Santos Coelho da Silva, mas o que não se falou até agora é sobre como elas foram parar em suas mãos. Num antigo mapa datado de 1811 (e com acréscimos em 1813), feito por José da Silva Pinto, apresenta-se, num painel, o destino das terras que foram dos referidos congregados. Num trecho relevante, encontramos:
Sítio do Sapato, mais uma porção de terras do Curral dos Bois, menos uma porção de terras denominado [sic] Mimoso, a que era do logrador do dito Sapato, venderam [os padres] a Dona Suzana da Silva […]
No documento não consta o ano desta venda, mas creio que foi entre 1864 e 1784, pois, imediatamente antes, está registrado que o sítio São João foi vendido a Antônio Alves Passos em 1764 e, imediatamente depois, o documento registra a venda do sítio Jacarará a Bartolomeu Francisco e a Inocência Martins em 1784. Depois disso há registro de venda de outra terra em 1789, dando a clara impressão de que os registros foram distribuídos no mapa em ordem cronológica das negociações. 
De qualquer forma, todos os pesquisadores afirmam que Santos Coelho tomou posse da área da fazenda Jenipapo, herdada de dona Suzana da Silva, em 1786 e todos eles contam a mesma história. Dizem que naquele ano, descendo da vila de Cimbres, o português foi fazer o reconhecimento de sua propriedade, tendo ali se perdido. Assim, ele teria feito uma promessa a Santo Antônio, que, se achasse o caminho de volta, construiria uma capela sob aquele orago.
[…]
Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

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Os 150 anos de Zeferino Galvão

Marcelo O. do Nascimento

No dia 9 de maio de 1864 nascia, em área então pertencente ao município do Brejo, Zeferino Cândido Galvão Filho, intelectual que dispensa apresentações. Segundo ele mesmo, em autobiografia (mil vezes infelizmente desaparecida), chegou a Pesqueira aos seis anos de idade, no mês de maio de 1870. Aqui não ficou rico, ganhou tão somente o necessário para sobreviver, mas tornou-se o maior escritor que a cidade já viu. Foi professor, historiador, filósofo, poeta, jornalista, linguista… Deixou uma obra gigante, mas que muito pouco é conhecida. Muitos de seus trabalhos não chegaram a ser publicados e alguns foram perdidos.

Esse ano completaram-se 90 anos de sua morte, tendo falecido em 1º de fevereiro de 1924. completaram-se também, neste mês de maio, além dos 150 anos de seu nascimento, 144 anos de sua chegada a Pesqueira. Observador, como deveria ser, viu grande parte da evolução de Pesqueira, registros que talvez tenha feito na autobiografia, mas que também talvez nunca cheguemos a conhecer. Nela, em trecho conhecido, disse ele sobre esta terra: “encontrei-a pequena e obscura, monótona e mal construída […] cresci e ela cresceu comigo. De simples vila passou a cidade; tornando-se rica, enchendo-se de habitantes…”

Este mês de maio de 2014 passaria em branco se não fosse a pequena mas importante publicação “Sesquicentenário de Zeferino Cândido Galvão Filho”. É o reconhecimento da Prefeitura Municipal (responsável pela edição), através do Instituto Histórico e Geográfico de Pesqueira e da Fundação de Cultura que carrega o nome do intelectual homenageado. Em trecho da apresentação, resume-se o seu propósito:

“… mais que lembrar o Sesquicentenário de seu nascimento é fazer com que a sua vida e obra chegue aos estudantes e de um modo geral à comunidade pesqueirense, investindo em práticas pedagógicas que visem despertar o gosto pela leitura e a adoção de novos pontos de vista e novas posturas pelo universo literário”.



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O inventário de Pantaleão de Siqueira Barbosa [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
O português Pantaleão de Siqueira Barbosa, já radicado no sertão do Moxotó e tendo fundado sua fazenda Jeritacó, como é natural, teve com sua consorte, dona Ana Leite de Oliveira, vários filhos. Aliás, vários para os padrões atuais, mas, poucos para a época. Com sua morte, em 1795, o velho português deixou sete herdeiros, cujos nomes vamos buscar no texto de sua partilha ocorrida em cartório da Vila de Cimbres entre 1802 e 1808.
Ulysses Lins de Albuquerque, em Moxotó Brabo, afirma que o óbito do mestre de campo ocorreu em 1793 [ALBUQUERQUE, 1979, p. 6], mas não apresenta confirmação. O mesmo faz José de Almeida Maciel, em Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres [MACIEL, 1980, p. 171]. No entanto, Nelson Barbalho, em Cronologia Pernambucana – Vol. 9, na página 206, afirma que o fato data de 29 de junho de 1795, enfatizando: 
Aos 29 de junho de 1795, Dia de São Pedro, falece em sua opulenta Fazenda Jeritacó o mestre-de-campo PANTALEÃO DE SIQUEIRA BARBOSA (1716-1795), português de nascimento e radicado no Sertão do MOXOTÓ desde a primeira metade do século XVIII. [Grifos do autor]
As informações a seguir, sobre os filhos de Pantaleão de Siqueira Barbosa, foram baseadas na transcrição da escritura de partilha feita por Nelson Barbalho no volume 10 da Cronologia Pernambucana [BARBALHO, 1983, p. 55-66]. Eis os nomes:
Manuel José de Siqueira. Foi o fundador de Pesqueira. Segundo a maioria dos historiadores, o primogênito do casal nasceu em 1742 no Moxotó, mas, como veremos oportunamente, há dúvidas quanto a essa data. 
Antônio de Siqueira Barbosa, que aparece no inventário como herdeiro do sítio Itapicuru, faleceu solteiro devido a um desastre, segundo informação de Nelson Barbalho. Para ele ficaram também “o escravo José, por preço de cem mil reis; Vicência, por preço de oitenta mil reis; mais duas colheres de prata, mais um cágado e contas de ouro, por seis mil e quatrocentos reis.”
Maria do Ó de Siqueira, que recebeu no inventário a fazenda Jeritacó. Ela era casada com o capitão Manuel Alves de Oliveira Melo, fundador de uma capela em Custódia e de uma povoação no território de Águas Belas. Quem aparece no tão citado inventário é na verdade o esposo, que recebeu também “a escrava Rita por preço de cem mil reis; Joaquim, por preço de vinte mil reis; duas colheres de prata e um pente de ouro, e umas armas de busto, tudo pelo preço de dois mil reis”.
João de Siqueira Barbosa, conhecido como Capitão João. Tido como homem de palavra, famoso por sua valentia. Para ele ficou o sítio São Bartolomeu. Ele foi pai, entre outros filhos, de Antônio de Siqueira Barbosa Sobrinho (1810-1885), influente em Cimbres em sua época. No inventário, consta para ele também “a escrava Antônia, por preço de cinquenta mil reis; Tereza, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata, vara e meia de cordão de ouro, por preço de cinco mil reis.”
Joaquim Inácio de Siqueira, fenomenal sertanejo, pai de vinte filhos conhecidos como “Os Vinte de Pesqueira”. No inventário do pai, consta para ele o sítio Jardim. Pela sua importância para a história de Pesqueira, veremos mais detalhes sobre ele em parte especial desta obra. Para ele, consta no inventário, o sítio Jardim e mais “a escrava Ignacia, por preço de oitenta mil reis; Sebastião, por preço de cinquenta mil reis; Luíza, por preço de trinta mil reis; Alexandre, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata e um par de brincos, por preço de dois mil reis”.
Pantaleão de Siqueira Barbosa Filho, para quem ficou o sítio Urubu. Foi pai de, no dizer de Nelson Barbalho (Ob. cit., p. 66), “dois célebres valentões do MOXOTÓ e do ARAROBÁ no século XIX”: João de Siqueira, conhecido como João Vermelho, e Manuel de Siqueira Barbosa, conhecido como Nascimento. Para ele ficaram também “o escravo Zacarias, por preço de cinquenta mil reis; a escrava Romana, por preço de sessenta mil reis; Fabrício, por preço de trinta mil reis; duas colheres de prata, dois anéis e um brinco de ouro, por preço de três mil reis.”
Luiz Rodrigues de Siqueira, foi, assim como os irmãos Manuel José e Joaquim Inácio, comandante do Moxotó. Para ele ficou o sítio Maniçoba e mais “o escravo Francisco, por preço de cem mil reis; a escrava Margarida, por preço de cem mil reis, duas colheres de prata, mil reis; o escravo Félix por preço de vinte e cinco mil reis; duas colheres de prata, mais dois pares de botões de ouro, por preço de oito mil reis”.
Pantaleão de Siqueira Barbosa foi o pai de uma imensa e importante legião de Siqueiras, sobrenome que cruzou com outros tantos, dando origem a diversos ramos de relevância para a sociedade pernambucana. Entre elas: os Cavalvanti, Albuquerque, Lins, Bezerra, Sá, Souza Leão, etc. Não foram poucos os homens e mulheres destas famílias a marcar seus nomes na história nacional.

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”. Como tal, contém trechos suprimidos e resumidos.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.


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Pantaleão de Siqueira Barbosa e a Fazenda Jeritacó [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
Antigamente, terra de índio era terra sem dono. O branco chegava, a mando do rei ou do governador, e tomava tudo na marra. O índio foi o primeiro personagem injustiçado na história do Brasil. Pernambuco, não fugindo a regra, massacrou e explorou os nativos, que, armados rudimentarmente, pouco tinham como combater as poderosas armas de fogo dos europeus.

A tradição oral da família Siqueira diz que Pantaleão de Siqueira Barbosa, português de Entre Douro e Minho, o pai de todos os Siqueiras do Sertão, apareceu por volta de 1738 naquela região. Ele vinha tomar posse da propriedade comprada naquele mesmo ano, em Sergipe Del Rey, ao Pe. Miguel Batista, procurador da Congregação do Oratório encarregado de negociar as terras dos padres. [ … ]

Todas as versões dessa história contam que ele chegou acompanhado dos também portugueses Manoel José de Siqueira Barbosa, seu irmão, e um amigo, Gonçalo Correia da Cruz. [ … ]

Permanecemos com a dúvida sobre a data de sua chegada e sobre a data de seu casamento. “Meados do século XVIII” é uma informação imprecisa que nos põe entre 1740 e 1760, talvez. No entanto, com certeza, Pantaleão de Siqueira estava no Sertão em 1753, pois, segundo Alfredo Leite Cavalcanti, ele aparece como testemunha na compra do sítio Fazenda Nova, em 15 de novembro daquele ano [CAVALCANTI, 1997, p. 91-92]. O que parece não haver dúvida é sobre seu casamento com dona Ana, neta de Manuel Monteiro da Rocha. O matrimônio certamente foi registrado em livro da freguesia de Nossa Senhora das Montanhas de Cimbres, livro que infelizmente não existe mais nos arquivos paroquiais ou na diocese pesqueirense, assim como não existem mais os livros nos quais constariam os registros de batismo dos filhos do casal, que seriam esclarecedores de inúmeras questões. [ … ]

O casamento, deduzimos com facilidade, foi bastante vantajoso para Pantaleão. O avô de sua esposa era um dos homens mais importantes do Sertão. Era capitão-mor da Capitania de Ararobá, possivelmente em seu tempo, funcionando na antiga povoação de Garanhuns, hoje progressista cidade de mesmo nome. Naquela época, casamento era quase sempre um negócio. O que a história tem registrado são muitos casos de dotes e vantagens políticas e poucos casos de histórias de amor, que naquele tempo já “não enchia barriga”.

Foi naquela mesma época, diz também a tradição oral citada por diversos historiadores, que Pantaleão de Siqueira mandou construir, em sua fazenda Jeritacó, a capelinha dedicada a Sant’Ana, em homenagem à moça com quem se casara. [ … ]

Das primitivas construções da fazenda, sobrou nos dias de hoje apenas uma fotografia da capela. À época daquele registro, a casa grande e a senzala já não apareceram na imagem, mas outras construções de aspecto antigo, certamente algumas ainda do século XIX. De qualquer forma, nada daquilo existe mais, pelo menos não à vista, pois tudo o que restou foi coberto pelas águas do açude Poço da Cruz, na área municipal de Ibimirim. Assim, ficaram perdidas as relíquias daquele início de civilização sertaneja e os restos do mestre de campo Pantaleão e de dona Ana, que foram enterrados em sepultura aberta na capelinha da fazenda.

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito “Pesqueira de 1800”.
Quando da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

Bibliografia
CAVALCANTI, Alfredo Leite, História de Garanhuns, 2ª ed. CEHM/FIAM. Recife: 1997, p. 91-92.

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Terras do Sertão [fragmento]

Marcelo O. do Nascimento
O povoamento do interior do Nordeste se deu principalmente com a ocupação da terra pela criação de gado. E foi assim no Sertão de Pernambuco, não fugindo à regra. Aquela região era um mundo de terras para se conquistar e de todas as partes vinha gente em busca de uma fatia. Naturalmente tudo aquilo já tinha seus donos naturais, ou seja, as várias tribos indígenas que existiam em Pernambuco muito antes do homem branco chegar. E com eles não havia negociação. O índio, de forma geral, era tratado como “elemento invasor”, em evidente injustiça, já que o verdadeiro agente nocivo, causador da quebra daquele equilíbrio natural era o branco, que chegou armado, dando poucas chances de sobrevivência aos verdadeiros donos da terra. Não são poucos os relatos, registrados na história, de afronta e espoliação aos Xukurus, Paratiós, Carnijós, dentre várias outras tribos. Aqui se pode entrar numa enorme questão ideológica, mas, seja como for, não se pode negar que o homem branco ganhava toda a terra, dada a ele por quem não era dono legítimo, embora o fosse perante a justiça (do homem branco, vale ressaltar).
Antes de 1738, as terras encravadas naquele então imenso deserto eram medidas de forma muito precária, a qualidade das medições das distâncias entres as propriedades rurais, povoações, etc, eram do mesmo quilate. Tudo era pelo “ouvi dizer” e, quando muito, anotadas em cartas de sesmarias, mas sempre com pouca precisão. Mas foi a partir daquele ano que o governador Henrique Luís Pereira mandou confeccionar os roteiros dos caminhos então existentes na Capitania de Pernambuco, marcando os diversos sítios já antes ocupados e batizados por seus primitivos proprietários. Destes, destacamos o caminho do Ipojuca, transcrito por Nelson Barbalho no volume 7 da Cronologia Pernambucana [BARBALHO, 1983, p. 172]. O roteiro começa em Recife, passa por várias localidades onde hoje se encontram os municípios de Gravatá, Bezerros, Caruaru, Belo Jardim e vários outros do Agreste e Sertão e morre na Matriz do Cabrobó.
A primeira localidade a aparecer na área municipal da atual Pesqueira é Curralinho, a 47 léguas distante do ponto inicial em Recife. A paragem era uma das propriedades fundadas pelo capitão Antônio Vieira de Melo, conforme informação de Nelson Barbalho (ob. cit., p. 176).

[…]

Está claro que as áreas mais movimentadas ficavam junto à água corrente. Nas aludidas negociações, se pararmos para analisar, sempre aparece algum rio: Pajeú, Moxotó e Ipojuca, este último nascente na sesmaria que fora de Fernandes Vieira, na serra do Ararobá, em território depois pertencente ao município de Cimbres e hoje encravada em área do município de Arcoverde. Tais terras deviam ser mais caras e mais procuradas. O motivo é evidente, pois a água era fundamental para a lavoura, criação do gado e, também, para a estruturação dos sítios fundados.
A própria Pesqueira, objeto e razão deste presente estudo, embora tenha seu núcleo alguns quilômetros distante do importante rio Ipojuca, nasceu entre dois importantes riachos: Baixa Grande, que desde da serra do Ararobá e corre por sua base, e Salgado, que corre por trás do primitivo núcleo, deixando a sede da fazenda no centro. Assim, na fazenda, corria água no terreiro e no quintal. Os dois riachos, junto com o Santana, de maior volume d’água, se juntam ali perto, nos mesmos domínios, formando o Ipaneminha.
[…]

Observações:
O presente texto é um fragmento do livro inédito Pesqueira de 1800. 
Antes da publicação em papel, ele poderá sofrer alterações causando discrepâncias com a versão ora apresentada.

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Pesqueira Histórica em 2014

Marcelo do Nascimento.

Manter um site como o Pesqueira Histórica sozinho não é fácil, especialmente quando se trata de uma atividade secundária e sem fins lucrativos. Meus afazeres profissionais são outros, como bem sabem os que me conhecem pessoalmente. As matérias publicadas são, quase em sua totalidade, produzidas e editadas por mim, com raríssimas exceções. Aproveito, assim, para pedir desculpas, sobretudo, pelos erros de digitação (ou até de ortografia) que vez ou outra aparecem como fantasmas, sem que nos demos conta.
Durante esses anos que se passaram desde a estreia do site, consegui publicar pelo menos uma matéria por mês, o que, evidentemente, é muito pouco para o movimento sem freios da internet. As pessoas, creio, se prendem a determinados endereços no mundo virtual quando eles lhes oferecem mudanças constantes. Parece que os que estão em repouso estão, de certo modo, “excluídos” da rede.

Neste ano de 2014, pretendemos alimentar o Pesqueira Histórica não apenas com matérias soltas, mas com fragmentos de livro de meu punho, atualmente em processo de escrita. É claro que existirão as exceções e, sempre que possível e necessário, artigos exclusivos continuarão a aparecer.
Os motivos, em parte, vêm do que já explicamos no começo: falta de tempo ou mão de obra para manter o site com matérias exclusivas. O livro que agora está em produção têm consumido muitos minutos do meu tempo livre, o que certamente sacrificou muitas matérias inéditas com potencial para publicação.
Desta forma, seguindo conselhos, decidi, pelo menos durante esse ano, e talvez o próximo, editar o Pesqueira Histórica principalmente com fragmentos do meu livro inédito. Com isso deve ser favorecido o volume de publicações do site, já que haverá apenas um foco de trabalho.
Os fragmentos citados, serão adaptados, editados para tentar chegar ao máximo de simplicidade, mais compatível com a leitura na tela do computador. Tais artigos só poderão ser lidos por completo no livro, quando este for editado.
Também pretendo retornar com o Dicionário Histórico Pesqueirense, desta vez inserido no próprio Pesqueira Histórica, o que facilitará o acesso. Por falar nisso, o dicionário, que ora funciona on line, se tornará livro assim que possível. São muitos projetos para duas mãos apenas, mas eles vão se realizando aos poucos. Estamos já com o segundo volume do Pesqueira Histórica concluído, livro que deve ser lançado ainda esse ano. Fora o livro que estou escrevendo, que deve ser lançado em 2016, tenho pelo menos uns cinco em mente. Um deles, deve aparecer em 2018, para marcar os 100 anos da Diocese de Pesqueira. Daí por diante não consigo fazer previsões, mas é certo que os trabalhos impressos não deixarão de surgir.
Também temos um projeto de catalogar o patrimônio histórico de Pesqueira a fim de guardar o documento para as gerações futuras e até mesmo para pesquisadores ou curiosos do tempo atual. Parece uma tarefa simples, mas em alguns casos requer muita pesquisa de campo e bibliográfica. Se um trabalho como esse tivesse sido feito décadas atrás, hoje seria muito mais fácil entender nossa história. As pessoas mais antigas estão desaparecendo e enterrando com elas muitas histórias e informações sobre as velhas casas de Pesqueira.
Aproveito para agradecer a todos que têm acessado o site nestes últimos anos. Sei que são poucos mas são fieis. Cativar leitores para esse segmento da literatura não é nada fácil, não só pelo pouco gosto que atualmente se tem pela leitura, mas também pela maioria das pessoas encararem a história como um assunto monótono, massante. Por isso, cada leitor, para mim, é muito importante. Ser lido por alguém é sempre um privilégio. Assim que o livro Pesqueira Histórica – Volume 2 estiver publicado, vamos inventar alguma promoção a fim de presentear alguns leitores.
Há muito tempo, não há um só dia no qual eu não leia, pesquise ou escreva algo sobre a história de Pesqueira e Cimbres. É algo que me completa e da qual não abro mão. Espero continuar, durante este ano e os próximos, compartilhando um pouco desse universo com todos vocês.


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O Museu do Doce

Por Marcelo do Nascimento
No último 7 de dezembro, às 4 horas da tarde, num evento magnífico, de organização impecável, foi entregue a Pesqueira o Museu do Doce, um incrível acervo de máquinas, fotografias e documentos que contam a história das antigas fábricas de doce de Pesqueira, sobretudo da Fábrica Rosa, que, fundada pelos irmãos Didier, passou para as mãos do sr. Severino Paixão em 1975, que a manteve funcionando até 1996, quando a empresa completava 90 anos de existência.
Naquele mesmo dia, muitos blogs produziram suas matérias, mas o Pesqueira Histórica se absteve de fazer o mesmo naquela data pelo evento ter sido, merecidamente, coberto pelos veículos mais populares da cidade. E, sobretudo, não era nosso interesse produzir simplesmente mais uma matéria entre tantas.
Na abertura do evento, o Pe. Marconi, pároco da matriz de Santa Águeda, resumiu, em poucas palavras, tudo o que penso sobre a História. Ele dizia que o museu não era algo que serviria apenas para admiração de objetos que remontam o passado de Pesqueira, mas também como exemplo para a geração atual e para as que virão, um exemplo de atitude, um exemplo concreto do “fazer”. E é disso que precisamos, não tenho dúvida.
Particularmente falando, sempre encarei a História como uma ciência que ensina, com os fatos do passado, a vivermos melhor no nosso tempo. É da nossa própria história que tomamos lições e exemplos do que devemos fazer, e também do que não devemos fazer, para construirmos um futuro sem erros. Na ignorância, mais presente no ser humano do que deveria, a história é apenas um amontoado de coisas velhas, empoeiradas e inúteis. Pobre do homem que não consegue ver na sua própria história o caminho para a evolução. Está aí a própria Pesqueira, que vive dias tão difíceis, mas que não consegue olhar para trás e tirar qualquer lição das experiências por ela vividas.
Antes não precisássemos do Museu do Doce, melhor seria ver a Rosa, a Peixe, a Tigre, a Cica, a Maravilha, todas funcionando e empregando pesqueirenses, como foi durante um século inteiro. Mas, se não podemos ter mais esses empreendimentos, o melhor a fazer é preservar suas memórias e usá-las como exemplo. Pior seria abandonar o pouco que restou, com isso não se ganharia nada. E, diga-se de passagem, foi, em parte, por causa de pensamentos como esse que, que Pesqueira perdeu a maior parte de seu patrimônio histórico.
Hugo Paixão, arquiteto, filho do Sr. Severino Paixão, levou à frente a empreitada de montar o museu. Aproveitou o maquinário restante da Rosa e buscou reunir material da Peixe, Recreio e até da Tambaú. Reuniu tudo num espaço dentro do mais que centenário prédio da Rosa. Mas não fez de qualquer jeito, muito pelo contrário. Tudo foi organizado de forma didática, com identificação e com muita beleza. Por sinal, tudo no museu é de extremo bom gosto. Não consigo imaginar, dentro deste seguimento, nada melhor do que lá vi!
A história de Pesqueira está há anos abandonada. Faz muito tempo que não se vê uma atitude em sua defesa e preservação. Agora é preciso reconhecer o trabalho de Hugo Paixão, cujo sobrenome traduz perfeitamente o que ele sente pela história da sua fábrica Rosa, sua e de nós todos, pois agora não há como não termos a antiga fábrica para nós também. Sabemos que não é fácil fazer cultura neste País, por isso imaginamos o trabalho que foi demandado na empreitada do museu. Talvez nenhuma outra pessoa tivesse conseguido o que ele conseguiu: juntar material, fazer o projeto, buscar apoio… É inacreditável como ele conseguiu!
No evento, destaco o levantamento histórico feito pelo Dr. Eduardo Paixão, que teceu palavras brilhantes sobre a indústria pesqueirense e sobre o Sr. Severino Paixão, seu pai. Foi uma aula de como bem contar uma história.
Outro ideia fenomenal foi a confecção de objetos alusivos à fábrica Rosa: camisetas, placas e miniaturas de tachos, reproduções dos originais existentes no museu.
Severino Paixão emprestou seu nome ao museu, nada mais justo, já que foi ele quem deu fôlego ao empreendimento nos anos 70. Se não fosse ele, talvez a Rosa não tivesse durado tanto e talvez não tivéssemos o museu, já que foi dele a ideia de construí-lo.
A vida em democracia nos obriga a ver, ler e ouvir todo tipo de opinião, nem sempre como gostaríamos. Dessa forma, há e haverá críticos de tudo, inclusive de atitudes como as que resultaram na inauguração do Museu do Doce. No entanto, cultura é cultura, isso não se pode negar. Termos o museu é um privilégio, vermos peças que nem imaginávamos que ainda pudessem existir nos causa o sentimento de abrir a arca de um tesouro que há muitos anos estava escondida.
Numa época na qual os vestígios do passado de Pesqueira estão desaparecendo, ver o acervo da história das fábricas locais reunido de forma tão segura e organizada, nos enche de alegria e esperança de que poderemos ter dias melhores.

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Os Suíços de Papagaio

Foto: Eri Martins

As informações mais antigas sobre Papagaio, hoje distrito de Pesqueira, dizem respeito a Constant Duvoisin, natural de Granson, na Confederação Helvética. Migrando para o Brasil, o suíço instalou-se primeiro em São Bento, depois se mudou para Papagaio, onde se casou, formou família e viveu até sua morte em 26 de setembro de 1882.
Algumas notas genealógicas soltas na internet indicam que ele teria vindo para o Brasil em 1859, mas não encontramos documentos que validem tal informação. O certo é que, em certa época, o senhor Duvoisin comprou a fazenda Papagaio, propriedade que leva o mesmo nome do rio que corre naquela região. Não sei se na época da compra já se tratava de fazenda constituída ou apenas uma porção de terra que foi por ele transformada em fazenda.
Provavelmente, por volta de 1866, ele se casou com Maria Rita da Conceição Carlos. Em 1867 e 1869, nasceram na fazenda Papagaio respectivamente Henrique Carlos Duvoisin e Inês Carlos Duvoisin, ambos filhos do casal. As crianças foram registradas no Consulado Suíço, em Recife, recebendo a nacionalidade do pai. Os dois foram assim, suíços nascidos em Papagaio. Estas informações foram anotadas por José de Almeida Maciel (Pesqueira e o Antigo Termo de Cimbres. CEHM/FIAM, 1980), que descreveu inclusive alguns traços de dr. Constâncio, como ele era conhecido. Segundo o autor:
“Geralmente chamado Doutor Constâncio (não ficou provada a obtenção do diploma), falava vários idiomas e dispunha de conhecimentos aprofundados de Medicina. Redação correta e impecável caligrafia, tudo isto o reputava um afeiçoada das letras.”
Como se percebe, ele era homem diferenciado na época e lugar em que viveu. 
A fazenda Papagaio era bastante extensa e equipada, conforme as mesmas notas de José de Almeida Maciel:
“[…] abrangia um âmbito de 240 braças de largura com o comprimento desde a estrada que vem de Covas até encontrar terras de Riachão (São Bento). Continha casa de vivenda e três outras: de escola, de bolandeira e de prensa; cercados currais e açude. Foram anexadas outras partes adquiridas de Pantaleão Batista Bruno (fazenda Covas), João Gabriel (Papagaio de Cima), Justino e Marcos (Marimbas), Francisco de Goes, José Maurício, Inácio Camilo; uma parte em Salobro e duas outras, Cascavel e Boa Vista, no município limítrofe de São Bento.”
O patriarca Duvoisin deixou, segundo seu inventário, 130 cabeças de gado, 8 cavalares, 80 cabruns e 60 ovelhuns. No inventário constava ainda uma farmácia, mercadorias de estivas, molhados, miudezas e ferragens. Ocorre que o suíço era comerciante. Inclusive, um compatriota eras seu correspondente comercial em Pesqueira: o também suíço Ricardo Caduff.
Outro trecho do inventário apresenta: um relógio de ouro avaliado em 50 cruzeiros (muito caro na época), cadeiras, bancos, mesas, balanças, 3 revólveres, máquina de descaroçar, prensa para ensacar algodão, relógio de parede, prateleiras, balcão, prensa de copiar cartas, óculo de alcance, livros encadernados e em brochura, duas classes para escola, um globo para estudo de geografia e uma caixa de matemáticas.
Percebemos a existência de itens inusitados, inclusive o material escolar.
No inventário aparecem apenas três escravos, poucos para o tamanho da fazenda.
Os filhos de dr. Constâncio deixaram muitos descendentes em Papagaio e em Pesqueira. Na cidade, ainda hoje, encontramos muita gente com seu sobrenome, embora registrado com muitas variações por erro dos cartórios.
Marcelo do Nascimento.
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