Os irmãos Lumière apresentaram sua invenção para o mundo em 1895. Era uma máquina, a qual chamavam de cinematógrafo, que projetava um filme em movimento diante de olhos curiosos dentro de uma sala escura.
O cinematógrafo chegou ao Brasil em julho de 1896 e, um ano depois, o Rio de Janeiro já contava com a primeira sala fixa de cinema: o Salão de Novidades de Paris. Em Pernambuco a novidade chegou em 27 de julho de 1909, com a inauguração do Pathé, em Recife.
Pesqueira, antes de o cinema chegar, conhecia o fotógrafo Severiano Neto, conhecido por Netinho, que vivia pelas festas da cidade e da região com um aparelho que projetava xilogravuras esculpidas por ele mesmo. Ele chamava aquilo de cinema instrutivo, no entanto a projeção era de imagens paradas, sem qualquer movimento. Apesar da precariedade e rusticidade, o aparato fazia sucesso.
O primeiro cinema propriamente dito de Pesqueira foi o Recreio Familiar, inaugurado em setembro de 1910 e que funcionava no Teatro Recreio Familiar Pesqueirense, na então Rua Duque de Caxias, atualmente o endereço correspondente à Cardeal Arcoverde, 65. O cinema era um empreendimento de Tonhé Didier e cobrava 1$000 por assento ou 500 réis por um lugar na plateia. Mais tarde seu nome seria mudado para Cine Pesqueira. Não sei exatamente em que ano a mudança ocorreu, mas, segundo Luís Wilson (em Ararobá Lendária e Eterna), um anuncio da Gazeta de Pesqueira de 16 de novembro de 1913 noticiava a exibição do filme Quo Vadis? No Cinema Pesqueira, ou seja, naquela data o nome já era o novo. A nota informava ainda o aumento do ingresso para os assentos, que passava a custar 2$000.
Luís Wilson, na mesma obra citada, afirma que em um dos números da Gazeta de Pesqueira de 1910 saiu o anúncio do funcionamento do Cinema Brasil, que cobrava 500 réis pela entrada na plateia e 1000 réis pelos assentos. Curiosamente é no mesmo ano da estreia do cinema Recreio Familiar (depois Cinema Pesqueira) e os preços dos ingressos são idênticos. Não sei se foi um equívoco do jornal ou de Luís Wilson ao fazer a citação ou ainda se se trata realmente de outro cinema. Até o momento não encontrei qualquer outra citação sobre o mesmo.
Em 1º. De novembro de 1914 surgiu o cinema de Tito Rego, que se chamava inicialmente de Cinema-Teatro e funcionava no Largo da Matriz, no mesmo prédio onde antes esteve o cartório do Maestro Tomás de Aquino. Em 11 de maio de 1915, com o nome de O Ideal, o novo cinema inaugurava uma moderna máquina de projeção, um Kinetophone Elgé, que era o que havia de mais avançado na época. O Ideal ficava no coração da cidade, contava com equipamento de primeira qualidade e exibia três sessões semanais, isso fez dele o primeiro grande cinema de Pesqueira.
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O Ideal, de Tito Rego |
Depois, mas ainda na época de O Ideal e do Cine Pesqueira, surgiu o Cinema Popular, que funcionava no número 31 da Rua Barão de Vila Bela. Esse cinema pertencia a dois comerciantes: Epifânio Cordeiro (vulgo seu Tapuio) e Francisco Tenório Sobrinho.
Esses foram os três primeiro cinemas de Pesqueira e, como o cinema ainda não falava, naquela época era comum as sessões serem acompanhadas por orquestras com grande repertório e habilidade para tocar as músicas certas para cada filme ou cena. Esse papel cabia ao Maestro Tomás de Aquino, que dividia seus músicos entre as três salas. Geralmente ele ficava no Ideal, onde tocava violino e era acompanhado por Glicério Maciel no pistom, Orestes Maciel (ou Alípio Galvão) na flauta e Napoleão Marques no clarinete, dentre outros músicos.
Em 1938 a cidade ganhou um novo cinema, o Cinema Moderno, que substituiu O Ideal. A novidade, segundo informações de Álvaro José Soares Ferreira, era dos irmãos Álvaro e Antônio Soares (seu avô e tio avô, respectivamente), que tinham como sócio Gilberto Pita, filho de Tito Rego. O Moderno tinha uma sala de projeção com capacidade para 480 pessoas e um projetor de 35 mm (ver blog Cine Mafalda, http://cinemafalda.blogspot.com/). Funcionava no número 83 da Rua Duque de Caxias, até que em 1967 mudou-se para um novo prédio, na mesma rua ao lado do Clube dos 50. O novo prédio era um espetáculo a parte e lembrava um cinema de cidade grande. Na parte da frente tinha uma galeria de lojas, sorveteria, etc., a sala de projeção era imensa e suportava mais de mil espectadores, além dos camarotes. Pode-se dizer que esse segundo Cinema Moderno foi o maior que Pesqueira já teve em todos os tempos.
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Prédio original do Moderno |
O blog Cine Mafalda, em sua relação de cinemas de rua em atividade nos anos 60, cita, além do Moderno, a Rádio Difusora de Pesqueira, com capacidade para 500 pessoas e projetor de 16 mm. Essa é uma informação totalmente nova para mim, não sabia da existência de uma máquina de projeção no auditório da rádio. Embora não tenhamos notícias de que algum filme tenha sido projetado ali, fica o registro histórico.
Houve ainda o cinema que pertencia à Diocese de Pesqueira e era conhecido popularmente como Cinema do Padre. Ainda segundo Álvaro José Soares Ferreira, seu nome verdadeiro era Cine Pesqueira. Essa informação me foi confirmada pelo Pe. Eduardo Valença, que me contou também que o nome oficial aparecia apenas em cartazes de rua e outras referências, não tendo qualquer letreiro na fachada ou no interior. Com certeza o esquecimento de seu nome real veio desse fato. Ele funcionava num grande prédio existente ainda hoje em frente ao Colégio Cristo Rei, idealizado e projetado pelo Pe. José Siqueira (segundo ainda Pe. Eduardo Valença). Não tenho informações precisas sobre datas de fundação e encerramento, mas o mesmo funcionou na mesma época da segunda fase do Moderno e foi fechado quando do bispado de Dom Mariano.
O último cinema a se manter funcionamento foi mesmo o Moderno, que fechou por volta de 1991 e reabriu em 1995, fechando definitivamente poucos meses depois, na mesma época da popularização dos aparelhos de vídeo cassete. Desde então Pesqueira não conta mais com nenhuma sala de exibição.
As chances de um novo cinema aparecer na cidade são praticamente nulas. Mesmo esse tipo de negócio tendo crescido nos últimos anos, ainda está aquém do que foi um dia. E a desfiguração dos velhos prédios ainda existentes em Pesqueira em nada ajuda a aumentar as possibilidades, já que seria necessária a construção de um novo ou uma gigantesca e inviável reforma em um dos remanescentes. Lembrando que ainda nem falamos do desinteresse da população em trocar um DVD pirata, barato e de péssima qualidade por uma exibição numa tela gigante e mágica e, mais, tendo de pagar um valor acima de R$ 2,00 de entrada.
Realmente, em Pesqueira, o cinema não teve um final feliz.
Por Oliveira do Nascimento
Notas:
- Matéria atualizada em 28/02/2012 com informações de Álvaro José Soares Ferreira e Pe. Eduardo Valença.
Fontes:
GASPAR, Lucia. Cinemas Antigos do Recfe. Matérias disponível em
http://jconlineblogs.ne10.uol.com.br/jcempauta/2011/08/23/estado-compra-o-cine-sao-luiz/ em 05/11/2011;