A Senzala de Pesqueira

A mão-de-obra escrava era presença certa nas fazendas do século XVIII e XIX (antes da Abolição de 13 de maio de 1888) e com Pesqueira não ocorreu diferente. Até alguns homens de caridade, como era o caso do Barão de Cimbres, dispunham de alguns escravos nem que fosse para atividades domésticas, para manutenção da propriedade, companhia, etc.

A senzala do Barão ficava junto à residência na fazenda Gravatá (hoje pertencente à família Didier). Não conheço outra fazenda que a senzala fique assim localizada em relação à casa grande. É sabido que ele nunca maltratou qualquer um dos escravos e que também costumava assistir aos seus festejos da varanda da casa i. Alguns dos seus serviçais foram citados em seu testamento, e deles, apenas Caêta, a governanta, não era escrava (1). Esse tratamento diferenciado era exceção, seja qual fosse o lugar.

A senzala de Pesqueira deve ter sido construída por volta de 1800, pois em 1801 Manuel José de Siqueira, fundador da primitiva fazenda, já estava estabelecido, casado e já com um filho nascido*. Da construção não encontramos hoje nenhum vestígio, no entanto até algumas décadas atrás ainda havia uma fração dela. O lugar em certa época foi usada como depósito de lixo pela prefeitura (2). Essa fração restante pode ser vista em velhas fotografias do centro de Pesqueira datadas dos anos 20. Em outra, datada de 1911, ela aparece ainda inteira, no entanto pelos fundos. Ela ficava na “rua de baixo”, bem em frente à Casa da Câmara e Cadeia, lugar estratégico para que o proprietário pudesse vigiar o comportamento dos escravos (2), isso se considerarmos que a Casa da Câmara era mesmo originalmente a casa grande da fazenda, tese da qual sou defensor, como já mostrei em outras matérias.
A senzala, por completo, ficava onde hoje estão os números 100 e 112 da rua Cardeal Arcoverde e seguia o padrão encontrado em várias propriedades espalhadas pelo País: uma tira de pequenas casas com algumas portas e janelas de frente coberta por duas águas, construção geralmente bastante ordinária, incompatível com o restante da fazenda. Esse padrão pode ser visto inclusive na fazenda Gravatá, no entanto creio que o material usado neste caso era de qualidade acima da média, pois a senzala continua de pé até hoje, assim como a casa grande do Barão.
Em Pesqueira havia ainda uma senzala de padreação e o casebre de Congo, o reprodutor da fazenda (3). Estas informações são do Pe. Frederico Maciel, que fez uma tentativa (não sei ao certo se bem sucedida ou não) de reconstituir a Pesqueira de mil oitocentos e pouco.
Marcelo Oliveira do Nascimento.
Fontes:
  1. WILSON, Luis. Ararobá, Lendária e Eterna. PMP/CEPE. Pesqueira: 1980.
  2. VALENÇA, Eduardo. Comentário sobre a Casa Grande. Disponível em http://pesqueirahistorica.blogspot.com/2011/12/comentario-sobre-casa-grande.html
  3. MACIEL, Frederico Bezerra. Editora Universitária da UFPE. Recife: 1982.
iNASCIMENTO, Marciana. A Casa Grande da Fazenda Gravatá. Disponível em https://www.pesqueirahistorica.com/2012/07/a-casa-grande-da-fazenda-gravata-por.html
*O primeiro filho de Manuel José de Siqueira nasceu em Pesqueira em 1801. Evidentemente naquele ano ele já estava casado.

Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.