O Talho Municipal de 1924
A primeira metade da década de 1920 registrou muitas obras no município de Pesqueira. Algumas são creditadas ao governo do Estado, mas muitas foram feitas pelo próprio governo local, no caso, na administração de Cândido de Brito, o popular Major Candinho. Entre elas, a de maior valor arquitetônico (sem discutirmos sua utilidade pública) foi o Talho Municipal. O termo caiu em desuso, mas, felizmente, se mantém gravado na fachada até hoje.
A gravação do ano de sua construção também está intacta no frontispício: 1924. Já são quase 90 anos do prédio e, pelo que observamos, restam poucos da mesma espécie e época no Estado.
Aquela década foi bastante movimentada em Pesqueira. Em 1925, o governador Sérgio Loreto visitou a cidade. Entre as obras do Estado da época, registramos a cadeia pública e o grupo escolar Virgínia Loreto como exemplares de bela arquitetura ainda hoje preservados. As edificações foram inauguradas em 1924 e 1925. Aliás, a viagem do governador à cidade foi para atender o convite para a inauguração do grupo escolar.
É natural que o Estado, com mais recursos e provavelmente munido de bons profissionais da área da arquitetura e construção, fizesse obras tão bem acabadas como as citadas. E isso reforça ainda mais o espanto com que se encara a arquitetura do antigo talho construído pelo município, que ainda hoje chama a atenção pelos belos traços. Preferências a parte, é evidente que a predominância atual das edificações sem qualquer identificação de estilo (e gosto muitas vezes duvidoso), amplifica a beleza das antigas construções.
Outro fato curioso é o acanhado tamanho da construção original, que corresponde à parte da esquerda de quem a mira de frente, exatamente a parte referente à fachada desenhada. Até 1950 o talho tinha apenas aquela pequena área e um curral ao lado. Com o tempo, com o aumento da população, da economia e, consequentemente do consumo, o talho ficou pequeno demais.
Em 1951, no governo de Ésio Araújo, a prefeitura procedeu com uma grande ampliação no prédio. Tenho a impressão que pelo menos duplicou de tamanho. Na obra foi previsto o gasto de Cr$ 600.000,00 e a previsão de finalização era meados de novembro de 1951, conforme encontramos no álbum Município de Pesqueira 1948 – 1951, publicado no fim daquele último ano, na gestão de Ésio Araújo:
Iniciada recentemente, encontra-se em plea plena atividade a construção do majestoso edifício do Açougue Público Municipal e que será entregue à população pesqueirense em meados de Novembro próximo. A despesa consignada no orçamento dessa importante obra é de Cr$ 600.000,00.
No mesmo álbum, em seguida, consta a informação de que a ampliação foi feita no curral lateral. Podemos constatar visualmente, mas o texto confirma:
A construção do Açougue Público no local onde estava destinado ao recolhimento do gado em dias de feira, motivo à edilidade construir um novo e amplo curral para os animais, dispondo de cocheiras, gastando com essa iniciativa a quantia de Cr$ 21.669,80.
(Ob. cit., sem numeração de páginas)
O segundo curral, creio, foi feito no início da estrada de Poção, logo após o cruzamento da rua Carlos Leitão com a avenida Ésio Araújo.
Cabe a ressalva que não houve construção do açougue daquela vez, como consta no texto, a obra era na verdade uma reforma do prédio já existente desde 1924, uma ampliação. Em Pesqueira se registra muito “construção” ou “reconstrução” no lugar de ampliação reforma, recuperação, etc. Isso muitas vezes impede o entendimento correto dos fatos.
O termo “majestoso edifício” denuncia a percepção do seu estilo e bom gosto mesmo naquela época.
A reforma empreendida por Ésio Araújo é bastante interessante para se observar o estilo arquitetônico de cada época. Percebemos com facilidade o contraste entre os dois estilos do prédio. A parte original da época do Major Candinho, embora simples, é bem desenhada, com curvas e certo requinte. A parte “nova”, da época de Ésio Araújo, é extremamente simples, de linhas retas, sem qualquer rebuscamento. A separação temporal das duas partes nem é tão grande, pouco mais de 20 anos, mas a diferença nos estilos arquitetônicos é evidente.
Segundo informação do Álbum de Pesqueira – 1923 a 1925, o açougue foi inaugurado em 21 de junho de 1925 (41). Curiosamente foi no mesmo dia em que, às 13:30, chegou à estação ferroviária de Pesqueira o governador Sérgio Loreto, mas não encontro registro de sua participação na inauguração.
O açougue funcionou no histórico prédio até 2007, quando o comércio de carnes foi transferido para o prédio da antiga fábrica Peixe, onde já estava funcionando a feira livre. Em 2008 ele passou a abrigar a Universidade Aberta do Brasil, que foi transferida do prédio do CAIC.
Esse novo uso a qual foi destinado, embora nobre, é incompatível com as características da construção, que de forma alguma é apropriada para estudo, leitura ou qualquer outra atividade intelectual. De qualquer forma, enquanto estiver ocupado, é pelo menos mais um motivo para mantê-lo bem conservado.
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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.
Sobre a Escola Virgínia Loreto, segue um texto sobre a homenageada:
"A exma. sra. d. Virgínia Loreto, digníssima consorte do eminente estadista, dr. Sergio Loreto, horando governador deste Estado."
Fonte: Rua Nova. Ano 2. Nª 44 – 13/2/1926 (sábado)
Domíno Público (pag. 25)
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jn001318.pdf
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Amaury de Medeiros foi casado com a Sra. ASPÁSIA LORETO DE MEDEIROS, filha do conhecido homem público SÉRGIO TEIXEIRA LINS DE BARROS LORETO e VIRGINIA DE MORAES FREITAS BARBOSA LORETO, ele Governador do Estado de Pernambuco no quadriênio 1922/26 e posteriormente eleito Deputado Federal pelo mesmo importante Estado brasileiro.
Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jn001447.pdf
Este último texto tenho na íntegra, se lhe interessar.