O Poço Pesqueiro, onde era?


Os escritores que já se aventuraram a contar a história de Pesqueira são unânimes em afirmarque a tão citada fazenda fundada por Manuel José de Siqueira recebeu o nome de “Poço Pesqueiro” em referência aum verdadeiro poço1existente nas proximidades. É unânime também a afirmação de que o poço era usado como lugar de pesca pelos índios da tribo Xukuru, daí o nome de “poço pesqueiro”, pois assim o era.


Quando da fundação da fazenda, Manuel José de Siqueira teria tomado o nome para batizá-la.
Esse é o tipo de informação que vai passando verbalmente de geração para geração, já que, não sendo um bem material e sim natural, não há nada a se registrar em documento oficial. A citação mais antiga na qual aparece o nome do lugar onde a fazenda fora instalada data de 1801 e figura como “sítio Pesqueiro” (1). Trata-se de documento de doação da propriedade a Manuel José de Siqueira feita por seu sogro Antônio dos Santos Coelho da Silva, capitão-mor de Cimbres e proprietário da riquíssima fazenda Jenipapo, hoje território do município de Sanharó.
Em documentos posteriores o lugar aparece ora como “lugar da Pesqueira”, ora como “lugar do Pesqueiro”, dentre outras combinações.
Sabemos que o núcleo da fazenda ficava exatamente onde hoje se localiza o quarteirão da rua Cardeal Arcoverde, que vai da câmara de vereadores à capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens. Algumas construções daquela época continuam de pé como provas inequívocas da localização.
Sobre o local do poço, a maioria concorda que ficava no curso do riacho Santana, que nasce na serra do Ararobá e corre nas proximidades do núcleo do primitivo núcleo da fazenda, hoje nas imediações do Seminário São José. No entanto, existe outra corrente de opinião que afirma ter sido o poço no riacho Salgado, que também corre, hoje canalizado, nas proximidades do antigo núcleo, por traz das antigas construções, onde hoje fica a rua vigário Espinosa. Para estes o poço ficaria, numa localização atual, cerca do antigo complexo da fábrica de doces Tigre.
O principal defensor dessa tese era o padre Frederico Maciel, que desenhou inclusive um mapa dando a localização exata do poço, que, segundo ele, ficava em frente à fábrica Tigre, um tanto à esquerda, na curva do riacho Salgado antes da antiga passagem de Pesqueira (2).
Ainda segundo Maciel, o poço:
Foi totalmente aterrado pelo mesmo riacho carreando detritos e areia, e pelo homem com retraços de folhas de flandres da seção de lataria das fábricas de doce.
O mais interessante da citação de Maciel talvez seja a descrição do poço “em forma de lagoa oblonga e rasa”. Não sei de onde ele tirou essa informação, mas é provável ter ouvido de alguém que tinha conhecimento de sua existência.
Não dá para descartar totalmente essa possibilidade, pois sobre o mesmo assunto há uma história bastante curiosa contada por Napoleão Estanislau, antigo funcionário da Prefeitura Municipal. Ele dizia que o poço pesqueiro devia ficar por perto da antiga Escola Profissional e que ali um poço havia sido aterrado. Ali, certa vez foi encontrado um para-choques de um Ford 1927 ou 29!
Como se vê, parece que realmente existiu um poço naquele trecho do riacho, pois a história de Napoleão Estanislau coincide com a história contada pelo pe. Frederico Maciel (em obra já citada), embora não possamos dar a certeza de que fosse o famoso poço pesqueiro. Como neste caso as fontes orais são um grande apoio para compreendermos os fatos passados, fica o interessante registro.
O que falta de verdade para o poço pesqueiro é se chegar a uma conclusão final sobre sua localização, ao menos aproximada, e se fixar um marco no local. Serviria de guia para o público em geral e para os possíveis pesquisadores.
Marcelo O.N.
24 de junho de 2013, dia de São João.
1Na região, local profundo no curso de um rio ou riacho dá-se o nome de poço.
Referências bibliográficas
(1) Carta do ouvidor-geral da Capitania de Pernambuco ao Rei D. João V. Aquivo Histórico Ultramarino. 27 de março de 1732.
(2) Livro da Criação da Vila de Cimbres (1762-1867). Leitura paleográfia de Cleonir Xavier de Albuquerque da Graça e Costa. CEHM/FIAM. Recife: 1985, pg. 266-267.  
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