Sobre a Reforma do Senado de Cimbres | Por Marciana Nascimento

Senado antes da reforma
Coleção de Jurandir Carmelo

Embora esta história esteja hoje esquecida, tempos atrás (vez ou outra) ouvia-se alguém falar na reconstrução do prédio do Senado de Cimbres. Eis um bom questionamento: o que se quer dizer com isso?
Acredito que a história surgiu a partir da obra feita pelo prefeito Ésio Araújo, fato comprovado pelo álbum do Município de Pesqueira (1948-1951). No entanto a tal “reconstrução” é que não é comprovada.
Encontramos no livro Pesqueira e Antigo Termo de Cimbres, de José de Almeida Maciel (FIAM, 1980), o texto da lei que autorizou a reforma. Vejamos o trecho:
Projeto de Lei nº 26 EMENTA – Abertura de um crédito até Cr$ 10.000,00 para restauração do prédio do antigo Senado de Cimbres.
A Câmara Municipal de Pesqueira resolve:
Artigo 1º – Fica o Prefeito do município autorizado a abrir um crédito especial de até Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) a fim de providenciar os reparos e demais serviços que se fizerem necessários no prédio onde funcionava, ao tempo do Brasil-colônia, o Senado da Câmara da Vila de Cimbres.
§ UNICO – A Prefeitura não permitirá que o prédio no estilo colonial da época seja descaracterizado em sua feição arquitetônica, inclusive nas primitivas divisórias internas.
Artigo 2º – Revogam-se as disposições em contrário.
[…]
S.S. da Câmara Municipal de Pesqueira, em 10 de junho de 1948.
José de Almeida Maciel
Felix Alves Maciel”
A lei é clara e enfatiza a preservação da originalidade do prédio.
Também é conveniente observar na foto da coleção de Jurandir Carmelo (no topo da matéria) que o estado do prédio era ruim, mas acredito que não a ponto de o mesmo ser levado abaixo e ser reconstruído em seguida. A imagem data entre 1945 e 47, antes da reforma portanto. Fato parecido é o que parece ter ocorrido com a matriz de Nossa Senhora das Montanhas da Vila de Cimbres (ver A Velha Igreja de Cimbres e seu adendo), da qual consta reforma/reconstrução em 1843 e em 1852.
No álbum já citado encontramos a informação de que a Prefeitura “pede meios para restauração do Senado da Câmara de Cimbres, relíquia essencialmente histórica, construído ao tempo do Brasil Colônia”. Ainda na mesma publicação constatamos que a obra de “restauração” foi iniciada ainda em 1948 e custou inicialmente Cr$ 11.100,00 e ao final, no ano seguinte, alcançou Cr$ 15.514,00.
E, finalizando as citações do álbum de Ésio Araújo, vejamos a legenda da foto do prédio com a obra já finalizada: “O Senado da Câmara de Cimbres, construído ao tempo do Brasil Colônia, é uma verdadeira relíquia histórica do município de Pesqueira. Encontrava-se num lamentável estado de ruínas. Foi totalmente restaurado”.Observem que a obra é sempre tratada como “restauração” e o valor histórico do prédio é sempre destacado. Não encontra-se registro de demolição, reconstrução, etc; encontramos apenas os termos “reforma”, “reparo” e “restauração”.
Senado após a reforma
Imagem cedida por Eulália Araújo Neves
Em resumo, não podemos comprovar que o prédio foi demolido e reconstruído e tudo que se tem de oficial, documentado, é que o mesmo passou por uma reforma, mantendo inclusive suas características originais. Outra dúvida a respeito é a sua data de construção. Geralmente o que se encontra nas obras dos historiadores de Pesqueira é que o mesmo é da época do Brasil colonial, e nada mais. No entanto, deixemos o assunto para um outro momento.
Por Marciana Nascimento.
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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.