O Museu do Doce
Por Marcelo do Nascimento
No último 7 de dezembro, às 4 horas da tarde, num evento magnífico, de organização impecável, foi entregue a Pesqueira o Museu do Doce, um incrível acervo de máquinas, fotografias e documentos que contam a história das antigas fábricas de doce de Pesqueira, sobretudo da Fábrica Rosa, que, fundada pelos irmãos Didier, passou para as mãos do sr. Severino Paixão em 1975, que a manteve funcionando até 1996, quando a empresa completava 90 anos de existência.
Naquele mesmo dia, muitos blogs produziram suas matérias, mas o Pesqueira Histórica se absteve de fazer o mesmo naquela data pelo evento ter sido, merecidamente, coberto pelos veículos mais populares da cidade. E, sobretudo, não era nosso interesse produzir simplesmente mais uma matéria entre tantas.
Na abertura do evento, o Pe. Marconi, pároco da matriz de Santa Águeda, resumiu, em poucas palavras, tudo o que penso sobre a História. Ele dizia que o museu não era algo que serviria apenas para admiração de objetos que remontam o passado de Pesqueira, mas também como exemplo para a geração atual e para as que virão, um exemplo de atitude, um exemplo concreto do “fazer”. E é disso que precisamos, não tenho dúvida.
Particularmente falando, sempre encarei a História como uma ciência que ensina, com os fatos do passado, a vivermos melhor no nosso tempo. É da nossa própria história que tomamos lições e exemplos do que devemos fazer, e também do que não devemos fazer, para construirmos um futuro sem erros. Na ignorância, mais presente no ser humano do que deveria, a história é apenas um amontoado de coisas velhas, empoeiradas e inúteis. Pobre do homem que não consegue ver na sua própria história o caminho para a evolução. Está aí a própria Pesqueira, que vive dias tão difíceis, mas que não consegue olhar para trás e tirar qualquer lição das experiências por ela vividas.
Antes não precisássemos do Museu do Doce, melhor seria ver a Rosa, a Peixe, a Tigre, a Cica, a Maravilha, todas funcionando e empregando pesqueirenses, como foi durante um século inteiro. Mas, se não podemos ter mais esses empreendimentos, o melhor a fazer é preservar suas memórias e usá-las como exemplo. Pior seria abandonar o pouco que restou, com isso não se ganharia nada. E, diga-se de passagem, foi, em parte, por causa de pensamentos como esse que, que Pesqueira perdeu a maior parte de seu patrimônio histórico.
Hugo Paixão, arquiteto, filho do Sr. Severino Paixão, levou à frente a empreitada de montar o museu. Aproveitou o maquinário restante da Rosa e buscou reunir material da Peixe, Recreio e até da Tambaú. Reuniu tudo num espaço dentro do mais que centenário prédio da Rosa. Mas não fez de qualquer jeito, muito pelo contrário. Tudo foi organizado de forma didática, com identificação e com muita beleza. Por sinal, tudo no museu é de extremo bom gosto. Não consigo imaginar, dentro deste seguimento, nada melhor do que lá vi!
A história de Pesqueira está há anos abandonada. Faz muito tempo que não se vê uma atitude em sua defesa e preservação. Agora é preciso reconhecer o trabalho de Hugo Paixão, cujo sobrenome traduz perfeitamente o que ele sente pela história da sua fábrica Rosa, sua e de nós todos, pois agora não há como não termos a antiga fábrica para nós também. Sabemos que não é fácil fazer cultura neste País, por isso imaginamos o trabalho que foi demandado na empreitada do museu. Talvez nenhuma outra pessoa tivesse conseguido o que ele conseguiu: juntar material, fazer o projeto, buscar apoio… É inacreditável como ele conseguiu!
No evento, destaco o levantamento histórico feito pelo Dr. Eduardo Paixão, que teceu palavras brilhantes sobre a indústria pesqueirense e sobre o Sr. Severino Paixão, seu pai. Foi uma aula de como bem contar uma história.
Outro ideia fenomenal foi a confecção de objetos alusivos à fábrica Rosa: camisetas, placas e miniaturas de tachos, reproduções dos originais existentes no museu.
Severino Paixão emprestou seu nome ao museu, nada mais justo, já que foi ele quem deu fôlego ao empreendimento nos anos 70. Se não fosse ele, talvez a Rosa não tivesse durado tanto e talvez não tivéssemos o museu, já que foi dele a ideia de construí-lo.
A vida em democracia nos obriga a ver, ler e ouvir todo tipo de opinião, nem sempre como gostaríamos. Dessa forma, há e haverá críticos de tudo, inclusive de atitudes como as que resultaram na inauguração do Museu do Doce. No entanto, cultura é cultura, isso não se pode negar. Termos o museu é um privilégio, vermos peças que nem imaginávamos que ainda pudessem existir nos causa o sentimento de abrir a arca de um tesouro que há muitos anos estava escondida.
Numa época na qual os vestígios do passado de Pesqueira estão desaparecendo, ver o acervo da história das fábricas locais reunido de forma tão segura e organizada, nos enche de alegria e esperança de que poderemos ter dias melhores.
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Este artigo pertence ao Pesqueira Histórica.